Ratatá aniquila adversários

As goleadas impostas a equipes de todas as regiões de São Paulo tornaram o clube presidido pelo comerciante Jonas João Alves, de 44 anos, o mais respeitado entre as mais de cem equipes existentes em Heliópolis.

Alves é natural de Itainópolis, no Piauí, e mora desde os seis em Heliópolis. Chegou no tempo em que as ruas eram de terra batida, não havia iluminação pública, água e esgoto. Havia muito espaço para a prática do futebol. “Nós tínhamos um time, o Cepes de Picos, em que só jogava gente da família”, lembra o presidente. “Um dia, dissemos ‘vamos fazer um time que não seja do Piauí, mas de São Paulo’. Foi assim que nasceu o Ratatá”, recorda.

A escolha do nome tem pelo menos duas versões, segundo o comerciante. “Uma pode ser relacionada aos frequentes tiroteios aqui na região, na época, e a outra, que me parece mais correta, é que Ratatá surgiu da letra de uma música dos Racionais MC’s”, argumenta Alves. Ele conta com orgulho que Edi Rock, integrante dos Racionais, é padrinho da agremiação de Heliópolis. “O Dodô, do grupo Pixote, também é padrinho e a Leci Brandão é a madrinha. Os Racionais vêm a todas as nossas festas, estão sempre aqui”, comenta.

O Ratatá segue o modelo de quase todos os clubes da várzea: a sede fica em uma pequena edificação, os atletas recebem cachê e, em dias de jogos, uma bateria e torcedores acompanham o time. Criaram até um grito de guerra: rola a bola da hora, Ratatá faz gol e quem é favela não ignora. “Nós temos um gasto mensal de cerca de 5 mil reais para colocar a equipe em campo”, calcula Alves. “Pagamos os jogadores, os ônibus, os fogos e a fumaça colorida”, acrescenta.

O carinho dispensado pela comunidade ao Ratatá fez com que Alves e sua diretoria implantasse uma estratégia de marketing, que arca com as despesas do clube. Tudo começou com os adesivos, para colar nos vidros dos carros e, depois, onde o comprador quiser. A linha de produtos se diversificou e hoje são comercializados bolsas, bonés, canecas, chaveiros, bermudas, camisas, blusões de nylon e outros artigos. Se não bastasse, dispõe de uma loja no Shopping Heliópolis (Estrada das Lágrimas, 2008, loja 10). “O Ratatá vive desse comércio”, admite.

Troféu é destaque pela altura de 1m80

Alves perdeu as contas de quantos troféus o Ratatá ganhou, mas estima que sejam mais de cem. “A maioria está guardada em bares de Heliópolis, pois não tínhamos espaço aqui para todos. Eu só sei que são mais de cem”. Uma das premiações mais importantes, no entender do presidente, foi a conquista, de forma invicta, da Copa Garanhão de Futebol Amador de 2017. O troféu está na sede, onde também funciona uma loja do clube. Ele tem 1m80 e, para ser levantado, foram necessários seis jogadores. O Ratatá também ganhou nessa competição um Hyundai HB20 zero 0km. Foi campeão também dos Jogos da Cidade 2010, vice da Copa Anhanguera 2011 e por mais de dez vezes venceu a Copa Regional Heliópolis.

Clube agora vive um momento de tranquilidade

Uma das razões da criação do time, no dia 20 de junho de 1997, foi dar voz à população local, que é formada basicamente por migrantes. Foi para promover jogos e levar distração aos moradores da comunidade. Isso vem ocorrendo há 22 anos e é certo que, desde a época da fundação do Ratatá, Heliópolis vive hoje uma realidade diferente. A infraestrutura melhorou e as pessoas encontram perto de casa praticamente tudo o que necessitam. “Eu sou um dos primeiros moradores do bairro e posso garantir que agora estamos no paraíso”, compara o aposentado Itamar Valentino, que, apesar dos 74 anos, vai a quase todos os jogos do Ratatá.

“A escolinha parou por falta de verbas, mas não deixamos de ajudar os pequenos da região. Temos uma equipe de garotos e aqueles que se destacam nos jogos são encaminhados ao Palmeiras, clube com o qual temos uma parceria”, diz o presidente Jonas João Alves.