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Construtora derruba grade e muro da Figueira da Estrada das Lágrimas

Símbolo de resistência às adversidades e às variações do clima, a Figueira das Lágrimas corre o risco de morrer. O muro lateral estava desabando, a Prefeitura contratou uma empresa para restaurá-lo, mas os operários fizeram o contrário: derrubaram muros e gradis, deixando expostas as raízes da árvore. “Se não derem um jeito, a pobre figueira não vai durar muito tempo”, lamenta a vizinha Yara Rodrigues Caldas, que é dona de metade do terreno em que está a espécie, na estrada das Lágrimas, 515, no Sacomã.
O mais estranho é que funcionários da Delima Engenharia e Construções Ltda., vencedora da licitação, colocaram em uma caçamba todo o material e já se preparavam para jogá-lo no lixo. Foram impedidos por Yara e os vizinhos. “Isso é inadmissível, os tijolos e os gradis estão aí desde 1823 e jogaram tudo foram”, ela desabafa. A subprefeitura Ipiranga disse que tudo o que foi retirado e tem condições de restauro foi guardado no terreno ao lado.
A figueira embeleza a região desde o século 18. Ela fazia parte da rota dos viajantes que partiam da Capital rumo ao litoral e era também o ponto em que parentes se despediam dos entes queridos convocados para a Guerra do Paraguai (1865-1870). Eles ajoelhavam e rezavam ao pé da bela árvore, pedindo proteção aos filhos e netos. Historiadores atestam que até Dom Pedro I aproveitou a sombra da espécie, em 1822, quando promoveu a independência do Brasil.
A árvore histórica é acompanhada rotineiramente por agrônomos, mas de fato quem a cuida no dia a dia, há 41 anos, é a vizinha. “O acesso ao local em que está a figueira é pela minha casa e eu sempre tomei conta do terreno”, lembra Yara. “Ele vão fazer aqui uma praça de 60 m², uma bela praça”, ela ironiza, referindo-se à Praça Figueira das Lágrimas, que deve estar pronta em 120 dias, ao custo de R$ 82,8 mil.
A moradora recorda que havia dois jardins no espaço em que se encontra a figueira, mas as constantes obras reduziram a área. “Acabaram com um jardim e o local virou depósito de carros velhos. Os nóias (drogados) dormem nos veículos e, vale lembrar, que os assaltos aumentaram bastante por aqui”, ela argumenta. “A vizinhança toda é contra a construção dessa praça, pode perguntar a qualquer morador”, conclui.
A subprefeitura Ipiranga informou em nota que “realizou o serviço de poda de adequação nas duas espécies arbóreas, em 7 de maio deste ano. Anteriormente, em 26 de abril, foi iniciado o processo para a requalificação da Praça Figueira das Lágrimas. A árvore é tombada, mas o entorno, incluindo o muro, não”. O comunicado acrescenta que, “entretanto, pelo contexto histórico, a administração regional orientou a empresa a armazenar o material para posterior avalizção”.
Ricardo Cardim está preocupado. Ele é o botânico responsável por clonar a figueira e replantá-la no Parque Villa-Lobos, e vê sérios riscos na maneira como a espécie foi deixada, após a intervenção iniciada na quinta-feira (11). Ele diz que é preciso agir rápido para não comprometer a saúde e a segurança da planta. “A árvore estava em um grande vaso, que era esse canteiro cercado por muros. Na hora que você tira o muro, teoricamente deixa a terra frouxa e, se houver ventania, a árvore pode perder parte da fixação no solo”, ele avisa. “O que precisa ser feito com o máximo de brevidade é refazer o canteiro, colocando mais terra”, ele ensina.

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