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SP pode ser palco de uma tragédia

Andar por São Paulo é correr riscos. Seja pelas pontes da cidade ou até mesmo no Parque do Ibirapuera. E o temor não está apenas relacionado à violência urbana que assola a Capital. Na segunda-feira (4), o jornal Folha de S.Paulo publicou que seis pontes e viadutos da cidade correm “risco iminente de colapso”. As estruturas em perigo são: pontes Cidade Universitária, Eusébio Matoso e Cidade Jardim (zona oeste), viadutos Gazeta do Ipiranga e Grande São Paulo (zona sul) e viaduto General Olímpio da Silveira (centro).
Na terça-feira (5), vistoria preventiva na marquise do Parque do Ibirapuera identificou “danos na impermeabilização, infiltrações, pontos de segregação do concreto e corrosão da armadura”. Assim, a Prefeitura interditou parte do vão livre sob a estrutura. Não custa lembrar que, em 2017, parte da estrutura já tinha desabado. Construída em 1954 em projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, a marquise havia passado por uma reforma de dois anos, entre 2010 e 2012, ao custo de R$ 15 milhões.
É inaceitável que a cidade mais rica do País sofra com tantos problemas de manutenção e conservação de seus equipamentos públicos. Em novembro do ano passado, a população foi pega de surpresa com o desmoronamento de parte do viaduto da Marginal do Pinheiros próximo ao Parque Villa-Lobos. Sorte que ninguém ficou ferido, mas o risco de um grave acidente era enorme. Este ano, dois dias antes do feriado do aniversário de São Paulo, a ponte Dutra – acesso Marginal, também foi interditada após vistoria de técnicos.
Não é raro um motorista mais atento detectar danos na estrutura de viadutos e pontes causados por colisão de caminhões, por exemplo. Sem contar pilares de sustentação com armaduras de ferro expostas e problemas de infiltração.
O Ministério Público tem cobrado da Prefeitura de São Paulo maior rigor na manutenção dessas construções. Existe até um TAC (termo de ajuste de conduta) que obriga, desde 2007, o município a criar um programa de manutenção para pontes, viadutos, galerias e túneis. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP) também tem papel fiscalizador fundamental nesse processo.
Depois da rápida passagem de João Doria (PSDB) pela prefeitura, que durou apenas 15 meses, o desafio da gestão do também tucano Bruno Covas é melhorar os serviços de manutenção e conservação da cidade. Falta a São Paulo uma melhor zeladoria. Calçadas estão desniveladas e as ruas esburacadas tanto na região central como na periferia. A cidade precisa de cuidado, e não de projetos mirabolantes.
Não falta dinheiro a São Paulo. O que falta é melhor gestão dos recursos. O Orçamento de 2019, aprovado em dezembro do ano passado, prevê, por exemplo, uma despesa de R$ 1,32 bilhões somente na área social, somando as receitas da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social e do Fundo Municipal de Assistência Social. Esse montante é superior ao orçamento total de milhares de municípios brasileiros.
É evidente que toda a culpa pela situação da cidade não é exclusivamente de Bruno Covas, que assumiu a Prefeitura em 2018, depois que Doria decidiu concorrer ao Governo do Estado. Mas o trabalho de conservação tem de constante e as evidências são de que São Paulo passou décadas sem o mínimo de cuidado nesta área. Ainda há tempo e recursos para recuperar o tempo perdido, antes que a cidade seja palco de uma tragédia.

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