Prevenir é melhor do que remediar

O incêndio no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo, que matou dez garotos das categorias de base do clube e deixou outros três feridos na sexta-feira (8), chocou os brasileiros. O início de 2019, inclusive, tem sido marcado por uma série de tragédias. Antes, já havia ocorrido o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), a morte de sete pessoas por causa das fortes chuvas que castigaram o Rio de Janeiro, e depois ainda teve a queda de um helicóptero no Rodoanel que matou o jornalista Ricardo Boechat e o piloto na segunda-feira (11).
O pior é a sensação de que esses acidentes poderiam ter sido evitados se todas as devidas precauções tivessem sido tomadas. No caso do CT do Flamengo, o local não tinha alvará de funcionamento emitido pela prefeitura nem certificado de autorização do Corpo de Bombeiros. Em Brumadinho, a Vale teria ignorado os avisos de que a barragem não estava totalmente segura. No Rio, as autoridades não alertaram a população sobre a possibilidade de fortes chuvas com ventos de até 130 km/h. Já a empresa dona do helicóptero que levava Boechat não podia fazer táxi-aéreo. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), tinha permissão para fazer apenas serviços de aerofotografia, aerorreportagem e aerocinematografia.
O mais impressionante é o fato de o Brasil não ter aprendido com tragédias que ocorrem nos últimos anos, como a incêndio da Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, e o rompimento da barragem com rejeitos de minérios em Mariana (MG). A falta de prevenção e correção de erros cometidos no passado provocaram novas mortes.
O caso do Ninho do Urubu chama ainda mais atenção porque o Flamengo é o clube mais rico do Brasil, com previsão de mais de R$ 750 milhões em receitas para 2019. Mesmo assim, colocougarotos para dormir em contêineres que, de acordo com as investigações preliminares, não ofereciam o mínimo de segurança. Vale lembrar que estamos falando da elite do esporte no País. A constatação é de que se nem mesmo os clubes de ponta reúnem condições para o desenvolvimento dos jovens, fica evidente que o Brasil precisa olhar com mais carinho e atenção para a formação de seus atletas.
Não basta apenas mais dinheiro para as categoriasde base dos clubes, que já possuem orçamentos milionários. É preciso maior envolvimento direto da CBF e das autoridades na estruturação dos times que não possuam recursos. Em São Paulo, por exemplo, em razão de incêndio no CT do Flamengo, o Ministério Público instaurou inquérito civil para apurar a situação de alojamentos mantidos por clubes na cidade. Logo de cara, o São Paulo precisou tirar às pressas os seus jogadores do CT da Barra Funda na noite de terça-feira (12) e levá-los para Cotia, justamente por não estar em dia com as exigências da prefeitura.
Prevenir é melhor do que remediar. Pena que o brasileiro parece não levar o dito popular tão a sério.