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Por que Michelle recebeu R$ 89 mil?

“Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?” A pergunta feita por um jornalista do O Globo no domingo (23) continua sem resposta. Em vez de prestar esclarecimentos, Bolsonaro optou por atacar o repórter. “Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?”, disse.
Se a intenção de Bolsonaro era tentar intimidar a imprensa, o presidente fracassou. Entidades e políticos reagiram à fala do presidente. Nas redes sociais, por exemplo, milhares de pessoas publicaram a mesma pergunta pergunta feita pelo repórter: “Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que Bolsonaro ataca a imprensa. Em 5 de maio, ao ser questionado sobre agressões cometidas por apoiadores do governo em um ato de enfermeiros, ele respondeu, aos gritos: “Cala a boca, não perguntei nada!”.
A liberdade de imprensa é inegociável. Cabem aos jornalistas fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel de informar os cidadãos. Sem imprensa livre e respeitada, qualquer nação é oprimida. Mesmo depois de ocupar a cadeira de deputado federal por tantos anos e estar no Palácio do Planalto há pouco mais de 1 ano e meio, Bolsonaro parece que ainda não entendeu que é dever de qualquer servidor público prestar contas à população.
Afirmar que tem vontade de agredir fisicamente um repórter é típico de ditaduras, não de democracias. O comportamento do presidente é grosseiro e em nada contribuiu para o debate público. Assim, morre a democracia.
Chama atenção como Bolsonaro se irrita quando o assunto é Queiroz. Ele e a sua família devem explicações ao povo brasileiro e à Justiça. Investigações do Ministério Público do Rio apontam que um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, teria montado um esquema de “rachadinha” no seu gabinete enquanto era deputado estadual. A acusação é de que o operador seria Fabrício Queiroz, a quem cabia arrecadar parte dos salários dos funcionários para pagar contas pessoas da família Bolsonaro. Até uma loja de chocolates na Barra da Tijuca teria sido supostamente usada para lavar dinheiro da “rachadinha”.
Acuado e sem explicar o motivo de sua esposa, Michelle, ter recebido R$ 89 mil de Queiroz, o presidente manteve os ataques aos jornalistas ao afirmar na segunda-feira (24) que se um “bundão” da imprensa contrair o novo coronavírus, a chance de sobreviver é “bem menor”. O Brasil registra mais de 3,6 milhões de casos, com 115 mil mortes, de covid-19.
O deboche como Bolsonaro tem tratado a pandemia é inaceitável. A impressão que passa é que o presidente tenta desviar da responsabilidade que o cargo que ele ocupa, o mais alto da República, exige em meio a uma pandemia. O Brasil é hoje o segundo país no mundo com mais mortes por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos.
É também o País cujo o chefe de Estado revela-se intolerante e desrespeitoso com a imprensa e se irrita ao ouvir a pergunta: “Presidente, por que sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”

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