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Moro vai para o ataque

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, participou de audiência realizada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado Federal na quarta-feira (19) para prestar esclarecimentos sobre mensagens supostamente enviadas do seu celular e publicadas pelo site The Intercept Brasil. Moro ouviu algumas provocações e perguntas mais duras, mas o clima não foi de hostilidade. Ele, no entanto, deve enfrentar na Câmara dos Deputados, onde também dará explicações, um ambiente bem diferente. Para quem esperava ofensas, gritos ou comportamento mais exaltado nos confrontos com a oposição não foi isso o que aconteceu.
Uma coisa, porém, ficou clara. A estratégia de Moro foi sempre se referir ao caso como “conversa normal” e “descuido”. Ele também se negou a atestar a veracidade dos diálogos divulgados. O ministro também colocou em dúvida a autenticidade das conversas obtidas pelo site The Intercept Brasil. Outro ponto defendido por Moro é de que ele foi vítima da ação criminosa de um hacker.
É inegável, no entanto, não comparar esse episódio com o de três anos atrás, quando foi divulgado um telefonema entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ocorrido em 2016 no âmbito da Operação Lava Jato. O argumento do ministro é de que há três anos havia uma interceptação autorizada legalmente.
O material divulgado pelo site mostra que Moro teria atuado como uma espécie de supervisor da Operação Lava Jato, com conselhos e orientações aos procuradores. O ministro negou desvio ético em seu comportamento como magistrado. Também fez questão de ressaltar que teve uma conduta imparcial que configure alguma irregularidade em relação às decisões da Lava Jato. Moro ainda declarou que “não houve conluio”.
Uma coisa, no entanto, é preciso destacar. Moro foi ao Senado sem criar resistência e assim também deve ser na Câmara. O que pesa contra os parlamentares é o fato de alguns senadores estarem preocupados com a duração da reunião de quarta-feira porque queriam antecipar as viagens do feriado de Corpus Christi. O “currículo” de muitos senadores também é questionável. Alguns, inclusive, foram investigados pela Lava Jato.
As declarações de Moro de que não tem apego ao cargo de ministro também merecem destaque. Frases como “se houve irregularidade de minha parte, eu saio” ajudam em sua defesa. Aparentemente sem medo, Moro ainda desafiou o site The Intercept. “Divulguem tudo de uma vez.”
O que é inevitável é que o trabalho de Moro à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública sofreu um duro golpe. Não vai ser fácil aprovar o projeto anticrime enviado ao Congresso.

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