Nossa Opinião

Crime de Brumadinho exige punição

A tragédia de Brumadinho (MG) não pode passar impune. Já são mais de 80 mortos e outras 270 pessoas estão desaparecidas. Ou seja, são grandes as chances de o número de vítimas continuar aumentando nos próximos dias, superando 300 vidas.
É preciso deixar claro que desastre ambiental é tufão, terremoto, tsunami e outros fenômenos da natureza. O que aconteceu em Brumadinho na última sexta-feira (25) foi crime provocado por negligência e irresponsabilidade. O pior é que a Vale é reincidente. Em novembro de 2015, o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da Samarco em Mariana (MG) provocou 19 mortes. A Samarco é um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a Vale e a BHP Billiton.
Passados três anos daquele episódio que deixou um rastro de destruição do interior de Minas Gerais ao litoral do Espírito Santo, apenas 6% das multas ambientais aplicadas na mineradora foram pagas até agora. A dívida da Samarco é de R$ 610 milhões. Foram aplicadas 56 multas e a empresa pagou apenas uma. Uma vergonha e deboche com a sociedade brasileira.
Agora, com a tragédia de Brumadinho, não basta que as autoridades punam a empresa. É preciso aplicar a lei com rigor e penalizar todas as pessoas que têm responsabilidade direta com o acidente, sejam engenheiros, diretores ou fiscais. Os culpados têm de ir para a cadeia. Também devem ser cobradas ações efetivas do Estado.
Mais de 200 barragens em Minas Gerais foram classificadas como de alto potencial de dano e cinco como de alto risco, segundo a ANA (Agência Nacional das Águas). Dano potencial alto significa que, caso a barragem se rompa, poderá causar muitas mortes e grande destruição ambiental e material.
A Vale já anunciou que vai desativar barragens como a Brumadinho. A pergunta que fica é por qual razão esse tipo de contenção já não foi descartado após Mariana. A impressão que passa é que os diretores da companhia parecem ter certeza de que o Brasil é o país da impunidade. Então, continuaram operando barragens mais baratas, porém obsoletas e ineficazes, sem medo de serem punidos.
A situação em Brumadinho e nas cidades afetadas pelo rompimento da barragem é complicadíssima. Com o mar de lama que se formou, médicos alertam para risco de infecções, leishmaniose e dengue. Há ainda o perigo futuro de câncer e doenças autoimune. Os bombeiros que atuam no resgate, inclusive, estão tomando remédio para minimizar efeitos do contato com lama.
A gravidade da situação ganhou destaque internacional não só pelo envio de militares israelenses para ajudar na busca por desaparecidos. Relatores de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) já pediram que o governo brasileiro dê prioridade à avaliações de segurança de barragens existentes no país para evitar uma nova tragédia.
Ainda atônita e consternada, a sociedade brasileira espera respostas. Se não bastasse a dor imensurável dos familiares das vítimas, ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos continuará por dezenas de anos. Ainda não há como fazer uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre. O que os brasileiros esperam é que episódios como esse nunca mais voltem a acontecer.

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