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Cine Favela: inclusão para a terceira idade atráves da arte

A aparição em uma cena de “Órfãos da Terra”, novela das seis da TV Globo, surpreendeu o carpinteiro aposentado Dercionilo Pereira dos Santos, de 70 anos. Ele jamais havia imaginado que, com apenas quatro meses de aprendizado de teatro, se tornaria uma personalidade na favela Heliópolis, onde reside com a mulher e quatro filhos.
“As aulas de teatro estão me ajudando até pra melhorar a leitura”, diz Santos, sem esconder o desejo de um dia contracenar com atores e atrizes famosos. “Se tiver a chance de trabalhar em novelas, será a maior realização da minha vida”, planeja ele. “Sei que não dá pra fazer o papel de galã, mas me contento com o vilão da história”, propõe.
Santos está há quatro meses no curso de teatro do Cine Favela, associação cultura que há 15 anos usa o cinema como ferramentas de inclusão sociocultural para moradores de Heliópolis. A entidade produz peças de teatro e filmes independentes, além de exibições de filmes no primeiro cinema da comunidade. “Eu também estou fazendo o curso de informática e, por meio de correções de palavras no computador, melhoro a minha capacidade de ter”, revela.
“Eu só quero ser feliz e poder cuidar da minha família, porque ao homem cabe o papel de protetor da família”, comenta Santos, que também é dono de um pequeno bar na favela. “Não posso depender apenas do dinheiro da aposentadoria, que não dá pra pagar nem as coisas básicas”, ele calcula. “Quem sabe um dia serei um ator conhecido e poderei levar uma vida melhor”, planeja.
A auxiliar de enfermagem aposentada Helena Cortez, de 88 anos, também é aluna do curso de teatro do Cine Favela. O sobrenome famoso no mundo da dramaturgia ela herdou do marido, Manoel Cortez, já falecido. “Ele não só era primo do Raul Cortez como tinha a mesma cara do ator da Globo”, ela compara. “Até meu filho Paulo, quando via uma cena de novela com o Raul Cortez, dizia ‘o papai está na televisão’. Tive vontade de pesquisar e acabei descobrindo que o sobrenome Cortez é muito comum no Brasil”, ela recorda.
Helena está há sete meses no curso, a convite de um dos organizadores do programa. “Eu nunca tinha participado de algo semelhante, mas estou adorando. Vindo às aulas, a gente se distrai, é bom para a cabeça”, avalia, acrescentando: “É uma atividade gostosa e nós ainda temos a oportunidade de conhecer outras pessoas, ampliar nosso círculo de amizades”. O sonho da aposentada é viver muitos anos. “Eu quero mais vida, não desejo morrer tão cedo”.
Uma das experiências mais gratificantes do Cine Favela ocorreu em abril de 2018, quando 24 pessoas da terceira idade foram reunidas em um ensaio fotográfico, exposto na Linha 4 – Amarela do Metrô. Antes, responderam um questionário com várias perguntas sobre a fase da vida em que estavam. Os painéis, com a foto, as respostas, nome e idade dos entrevistados foram deixados em estações da zona oeste e chamaram a atenção do público. A exposição foi feita a pedido da equipe de sustentabilidade da Via Quatro, que patrocina o projeto Cine Favela na era da inclusão digital para idosos.

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