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Cisplatina, do campo para a mesa

 

Um pouco de História não faz mal a ninguém, não é mesmo? O Uruguai, um vizinho de dimensões reduzidas e de solo farto em minérios (prata, por exemplo), já fez parte do território brasileiro. Pertenceu por quatro anos (1821-1825) ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e posteriormente Império do Brasil, sob o comando de Dom João VI. A região chamava-se Província Cisplatina – ou, trocando em miúdos, “aquém do Rio da Prata”. Teria lógica ligar esse fato histórico a um fato esportivo? Aparentemente, não, mas 107 anos após a tomada de um território desejado também pela Argentina, alguns ipiranguistas fizeram a ligação. Eles costumavam se reunir à noite em uma localidade conhecida à época como Valo, atual rua Padre Marchetti, próximo à avenida Nazaré, para acertar detalhes da formação de um time de futebol. Foi assim que em 21 de abril de 1928 nasceu o Cisplatina Futebol Clube, uma das agremiações mais antigas do Ipiranga.

O grupo era formado por 36 jovens estudantes, todos apaixonados por futebol, e não se sabe exatamente de quem foi a ideia de batizar o time de Cisplatina. Sabe-se apenas que todos concordaram de imediato em prestar uma homenagem à Província Cisplatina. Os irmãos Flávio, Sílvio e Higino Oliani estavam presentes, assim como João Piva, Raul Della Lata, Sebastião Rodrigues, Ângelo Paula Sitta, Cândido Schiezzari e Fausto Borgestti. As cores do clube já haviam sido escolhidas: vermelho e preto, com finas listras brancas.

O bairro tinha características rurais, com o predomínio de chácaras e sítios, e uma população de cerca de 20 mil habitantes. As ruas eram de terra batida, a iluminação pública ainda era com lâmpadas de óleo de baleia, implantadas no século 19, e as poucas casas eram distantes umas das outras. Os meios de transporte dos primeiros moradores (quase todos operários das fábricas da região) eram os bondes e a bicicleta.

Foi nesse cenário que, em 1931, o Cisplatina deu os primeiros passos rumo à fama entre os clubes, ainda na categoria amador. A fase profissional teve início em 1945, após a fusão com o Clube Esportivo América. A praça de esportes ficava entre as ruas Brigadeiro Jordão e Bom Pastor, local atualmente ocupado por casas, prédios e pontos comerciais. Diretores, sócios e simpatizantes ainda se recordam da força do Cisplatina nas quatro linhas. Entrava para ganhar nas competições e, pode-se dizer, participou de todos os campeonatos importantes promovidos em São Paulo.

Jeferson é sócio há 50 anos

O comerciante Jeferson Cincotto, de 63 anos, está pela segunda vez à frente do Cisplatina e não esconde a afeição ao clube. “É um orgulho enorme ser presidente do Cisplatina”, diz ele. “Sou sócio há mais de 50 anos e tenho um carinho muito grande, um amor pelo Cispla. Falo em meu nome e de todos os ex-presidentes, é muito importante poder fazer alguma coisa pelo clube, pois temos a mesma dedicação e atenção pela entidade. Tudo o que a gente faz é pelo bem do Cispla”, observa Jeferson, acrescentando: “Serei cisplatinense até o dia em que Deus permitir”. Quanto à importância da agremiação para o esporte no bairro, ele é categórico: “Tenho certeza de que o Cisplatina teve e tem muita representatividade”.

Um time respeitado

O sonho dos jovens estudantes se realizou e, rapidamente, o Cisplatina se tornou respeitado pelos adversários, não só os da região, mas de toda a cidade. Acumulou vitórias e troféus e, aos poucos, diversificou as modalidades esportivas. Montou equipes de futebol de salão, nas categorias infantil, juvenil, principal e veteranos; basquete masculino e feminino; natação; bocha e, mais recentemente, futebol de mesa, anteriormente chamado de “jogo de botão”. A Federação Paulista de Futebol de Mesa (FPFM) está instalada na sede da agremiação.

As atividades do futebol foram encerradas em 1950, não sem antes revelar atletas como o atacante Petronilho de Brito, irmão de Valdemar de Brito, o descobridor de Pelé.

Patrimônio bem cuidado

A sede do Cisplatina, entre as ruas Brigadeiro Jordão e Costa Aguiar, tem 1,8 mil metros quadrados, bem cuidados pela diretoria. Ela dispõe de um salão de festas com capacidade para 350 pessoas, quadra de futsal e vôlei, a sala do futebol de mesa, consultório odontológico e uma área de lazer.

 

 

 

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