Nossa Opinião

Brasil perdeu grande oportunidade

O primeiro discurso abrindo uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) do presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (24) foi cercado de muita expectativa. Ao falar para um público internacional, o presidente, no entanto, optou por se dirigir aos seus seguidores. Assim, conseguiu arrancar elogios de aliados e dos bolsonaristas mais radicais, porém rompeu com uma tradição histórica do Brasil de prudência na política externa.
Em um tom agressivo, Bolsonaro falou sobre temas como preservação da Amazônia, soberania, socialismo, política externa, indígenas, Mercosul e economia. O presidente declarou, por exemplo, que Amazônia permanece “praticamente intocada”. Foi mais longe ao declarar que líderes indígenas são usados como peça de manobra por governos estrangeiros.
No campo ideológico, Bolsonaro criticou o socialismo da Venezuela e Cuba e chamou o Foro de São Paulo de organização criminosa. O presidente garantiu se empenhar para que outros países da América do Sul não experimentem o “nefasto regime” da Venezuela. Sem citar nomes, afirmou também que presidentes socialistas desviaram dinheiro e compraram parte da mídia e do parlamento em seus países.
Com esse tipo de declaração, Bolsonaro frustrou a expectativa de discurso conciliador na ONU. Ambientalistas, por exemplo, esperavam que o presidente aproveitasse o palanque internacional para mostrar ao mundo o compromisso do País com a preservação do meio ambiente e da Amazônia. Não foi isso, porém, que aconteceu.
A avaliação de diplomatas foi de que Bolsonaro falhou ao escolher não ser nada cuidadoso nas palavras. Ele criticou potências europeias e, consequentemente, criou mais atritos junto à comunidade internacional.
Mesmo após ser criticado, Bolsonaro não recuou e declarou à imprensa que o seu discurso buscava “restabelecer a verdade”. Na opinião do próprio presidente, ele foi contundente e objetivo, sem qualquer tipo de agressividade.
O mais grave, no entanto, foram as mentiras ditas pelo presidente na ONU. Bolsonaro declarou, por exemplo, que “em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional”. Isso não é verdade. Longe disso. O programa Mais Médicos especificava que os profissionais intercambistas deviam apresentar diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira, além de habilitação para o exercício da Medicina no país de sua formação.
Tradicionalmente, desde 1949, cabe ao representante do Brasil abrir o debate geral da assembleia das Nações Unidas. Bolsonaro deixou escapar a oportunidade de mostrar que o Brasil investe em soluções e é amigo do meio ambiente. O presidente claramente falou ao público interno, enquanto todos esperavam, na verdade, entender sua visão de mundo.

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