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Ao lado do Museu terreno de 25 mil metros vira ninho de escorpiões

Mato alto, lixo por todo o terreno, ninho de ratos, baratas, escorpiões e lagartos, “isso é uma vergonha”, diz o vendedor de água de coco Wilson Dantas de Andrade, mais conhecido como seu Popó.
Esse é o estado que se encontra um terreno de 25 mil m², localizado nas esquinas da rua Bom Pastor com Sorocabanos. Ele foi declarado de utilidade pública pelo então prefeito José Serra e desapropriado pelo também então prefeito Gilberto Kassab. E agora é ninho de escorpiões, cujos animais invadem as casas e levam medo aos moradores do entorno.
O terreno foi alvo de uma longa disputa entre os moradores do Ipiranga e a construtora Gafisa. A empresa havia adquirido o imóvel, onde funcionava uma comunidade Hare Krishna, para construir um condomínio de alto padrão com quatro torres. Isso foi em meados de 2005. Liderados pelo ipiranguista Valdir Abdalah, a população iniciou vigília no local exigindo sua anexação ao Parque da Independência. A briga foi ganha pela população.
Eleito pelo bairro o vereador Domingos Dissei, hoje Conselheiro do Tribunal de Contas do Município, entrou na “briga” e o terreno, que havia sido declarado de utilidade pública pelo prefeito José Serra, foi desapropriado em junho de 2008 pelo então prefeito Gilberto Kassab. Ele, inclusive, chegou a visitar a área a época da desapropriação e colocou a cargo da Secretaria do Verde e Meio Ambiente a responsabilidade de apresentar projeto para transformar o local em área de lazer e anexar aos 161,3 mil metros quadrados do Parque da Independência.
Localizado no coração do Ipiranga, um dos bairros mais carentes de área verde na cidade, o terreno tem uma topografia irregular, com vegetação rasteira, mas com o passar dos anos e graças aos pássaros depositando sementes na área, algumas árvores já cresceram no local que está largado.
Frequentadores do Parque da Independência se mostram indignados com o abandono do local. A poucos metros dali, uma reforma magnifica ao custo de 189 milhões, está dando vida nova ao Museu do Ipiranga que, ameaçado de desabamento, está fechado desde 2013, mas graças aos apelos do governador João Dória, um pool de empresas se reuniu para bancar sua reforma. Depois da reforma, ele será a joia da coroa na comemoração do bi centenário da Independência do Brasil, em setembro de 2022. “A noiva vai para o altar com um vestido belo e encantador, mas de sapato velho e com um furo a mostra”, ironiza a ipiranguista Vera Helena, ao falar da reforma do Museu mas do abandono do terreno ao lado do Parque da Independência. Abandono que o seu Popó diz sentir tristeza. Ele responsabiliza os “prefeitos e vereadores que nada fizeram”. Seu Popó diz que durante todo esse tempo só foi feita uma escadaria para acesso ao local, mas que ela só serviu para ser palco de uma briga entre os vereadores Camilo Cristófaro e George Hato. “Foi desagradável. Eles brigaram para vê quem tirava fotos limpando a escada”, afirma.
Ao lado do terreno está a capela Bom Jesus do Horto, que abriga a Igreja Católica Ortodoxa da Anunciação, construída em 1892. Ela é uma das mais antigas de São Paulo e conhecida pelos moradores do bairro com “Igreja Russa”, isso porque ali é celebrada aos domingos missa em russo, num ritual bizantino-eslavo. A capela está preservada e não foi afetada pela desapropriação.

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