Sesc Ipiranga realiza exposição sobre a produção literária indígena
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Com abertura à visitação nesta quinta-feira (31), o Sesc Ipiranga recebe a exposição, gratuita e para todas as idades, Araetá – A Literatura dos Povos Originários, um expressivo recorte da produção literária de autoria indígena por meio de publicação de escritores e escritoras que representam mais de 50 povos de diferentes regiões.
A exposição, que vai até 17 de março de 2024, ainda reúne ilustrações, fotografias, artesanias e objetos artísticos, além de representar mais de 334 títulos publicados por 105 editoras do país.
Realizada pelo Sesc São Paulo, o Instituto Cultural Vale e o Ministério da Cultura, a exposição foi idealizada por Selma Caetano, curadora e produtora executiva do Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa –, que divide o projeto curatorial da mostra com o pedagogo, teatrólogo e poeta Ademario Ribeiro Payayá, o ambientalista e escritor Kaká Werá Jekupé, o fotógrafo Richard Werá Mirim e a documentarista Cristina Flória.
“O acervo apresentado na exposição é composto por cantos, contos, mitos, narrativas, poesias, ensaios, romances e títulos relacionados à criação do mundo, à ancestralidade, à vivência dessa ancestralidade no presente, ao bem viver e ao papel dos anciãos nas comunidades indígenas. Há, também, a presença de livros com uma forte carga política vinculados ao ativismo e à militância com os quais os indígenas têm superado e resistido, há séculos, à invisibilidade”, explica Selma.
Fenômeno que experimenta um crescente interesse do público leitor, a edição de livros com autoria indígena tem como uma das pioneiras a escritora Eliane Potiguara, que deu início a sua produção nos anos 1970, quando imprimia textos mimeografados em um formato designado por ela como “poema-poster”.
Pedagoga, Eliane é um dos destaques da mostra, que também exalta as importantes colaborações de lideranças como Ailton Krenak, autor de uma série de livros que registram reflexões filosóficas e um ativismo ambiental que se contrapõe ao modo de vida ocidental, e Daniel Munduruku, escritor com mais de 60 livros publicados, que colabora como consultor literário da exposição.
Araetá – A Literatura dos Povos Originários também presta tributo ao escritor e xamã Davi Kopenawa, dedicando ao líder Yanomami o espaço intitulado Casa dos Saberes, que, com curadoria de Kaká Werá Jecupé, foca a experiência sensorial e estética da arte que inspira a literatura produzida por diversos povos indígenas no Brasil.
A Casa dos Saberes é, também, um lugar onde o elo entre a tradição oral e a arte literária fica evidente por meio dos saberes ancestrais transmitidos por xamãs e pajés. O espaço reúne objetos e peças que dimensionam a inventiva artesania dos povos originários, como as cestarias dos Mehinaku e Kalapalo, do Xingu, e as cestarias e esteiras dos Baniwa, dos Baré e Ticuna, oriundos da Amazônia.
“Nesse momento em que a humanidade enfrenta o desafio de transformar o modo como se relaciona com a natureza, as visões de mundo e modo de ser dos povos originários – transmitidos há séculos por meio da literatura oral e agora acessíveis em centenas de livros de autoria indígena disponíveis na Casa dos Saberes – oferecem ao público uma possibilidade de reflexão sobre o futuro da humanidade”, defende Kaká Werá Jacupé, ambientalista, escritor e curador do espaço.
O projeto expográfico da mostra também se desdobra por espaços temáticos, apresentados pelo escritor, professor e artista plástico Ariabo Kezo, do povo Balatiponé: Amazonas, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal.
A exposição ainda oferece ao público a Biblioteca Araetá, um trabalho em progresso de pesquisa e catalogação, que disponibiliza para leitura o acervo contemplado nos espaços expositivos. Araetá destaca, igualmente, a expressividade de artistas indígenas que produzem ilustrações para livros, como Uziel Guainê, professor e escultor Maraguá que apresenta dois painéis especialmente criados para a Casa dos Saberes.
A produção fotográfica, com curadoria de Cristina Flória e Richard Werá Mirim, destaca trabalhos de 14 fotógrafos, de 12 diferentes povos, dedicados a retratar suas culturas e evidenciar as nuances e singularidades de cada grupo, desempenhando um papel importante na valorização da diversidade cultural, conscientização e se constitui em uma ferramenta de autodeterminação e quebra de estereótipos geralmente associados às culturas indígenas
A mostra reúne 38 imagens dos seguintes fotógrafos e fotógrafas: Amanda Pankará, André Guajajara, Cristian Arapiun, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Isabella Kariri, Kaiti Topramre, Kamikia Kisedje, Kronün Kaingang, Mre Gavião, Priscila Tapajowara, Palamido, Richard Werá Mirim, Scott Hill e Vherá Xunú. Em conjunto, o intuito é, por das imagens selecionadas, salvaguardar sua herança, assegurando, assim, sua transmissão para as gerações futuras.
A exposição contempla um programa educativo que objetiva o atendimento de escolas das redes públicas e privadas, tanto de bairros próximos aos Sesc Ipiranga quanto de outras localidades.
O Sesc Ipiranga fica na rua Bom Pastor, 822.
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