Proprietários de fábrica somem e ignoram direitos trabalhistas
O fechamento de uma fábrica fundada há mais de 40 anos travou a vida de dezenas de trabalhadores. Eles não chegaram a ser demitidos, porque os donos da Lustres Projeto sumiram. As carteiras de trabalho continuam assinadas, o que impede cerca de 50 funcionários de sacar o FGTS, receber o salário desemprego e também conseguir outra colocação no mercado.
Um grupo de 28 empregados entrou na Justiça com uma ação coletiva para reivindicar seus direitos trabalhistas e resolver a situação. Eles são representados por dois advogados do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e a batalha tem sido árdua: já houve duas audiências de consolação na 23ª Vara do Fórum da Barra Funda e os responsáveis pela indústria não compareceram. A terceira audiência seria em julho, mas foi remarcada para o início de setembro.
“Estamos desempregados, não recebemos os nossos direitos e ainda temos de esperar dois meses até a próxima audiência”, desabafa o subencarregado de expedição José Marcos da Silva, que dedicou 22 de seus 44 anos à Lustres Projeto. “A alegação é que não foram citadas todas as partes, incluindo os patrões”, ele esclarece. “As audiências anteriores não resultaram em nada e enquanto isso a gente fica ‘amarrado’. Pleiteamos apenas o FGTS e o salário-desemprego, que são nossos direitos”, exige.
O processo contra os proprietários da Lustres Projeto caminha de forma morosa, para desespero dos trabalhadores, que estão enfrentando diversas dificuldades financeiras e tendo que fazer bicos para sobreviver. São os casos, entre outros, de Gonçalo Francisco de Sousa Neto, de 49 anos, Teófilo Emídio Rodrigues, de 38 anos, Ademir Francisco Santos, de 59 anos e Nelson Franco de Oliveira Neto, de 55 anos, que trabalharam na fábrica respectivamente 25, 18, 18 e 12 anos. Renan de Aquino Silva, de 29 anos e 11 de casa, já teve a ação julgada. Ele venceu, mas só recebeu parte da indenização. Alfredo dos Santos, de 84 anos, foi demitido em fevereiro de 2017. Prometeram quitar a dívida em 17 parcelas, mas até agora ele não recebeu nem a primeira.
Problemas começaram há 3 anos
Os problemas de caixa da Lustres Projeto, uma indústria no segmento de lustres e luminárias, com sede no bairro de São João Clímaco, começaram em 2016, ainda na administração de Leôncio Cardoso e o sócio, Antonio Mendonça. A situação se tornou incontrolável e, em julho de 2017, Sandro Leite, Dalziro de Souza e o filho, Ricardo Slav de Souza se apresentaram aos funcionários como novos donos da metalúrgica.
Os novos proprietários levaram um ano e meio tentando recuperar as finanças da empresa, até que, em janeiro deste ano, eles esvaziaram as gavetas, colocaram sobre a mesa as chaves dos sete carros e desapareceram, sem deixar notícias. Os funcionários retornaram ao trabalho no dia 28, após o feriado prolongado, e se deram conta de que tinham sido entregues à própria sorte. O terreno em que se encontra a Lustres Projeto tem 17.8 mil m² e, no interior da fábrica, ainda estão máquinas, guilhotinas, serralheiras e soldas, junto com quilos de aço, metal e alumínio. Os donos da Lustres Projetos não foram localizados.
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