Nossa Opinião

Embaixada não é brincadeira

O desejo do presidente Jair Bolsonaro de colocar o seu filho Eduardo Bolsonaro, à frente da embaixada brasileira em Washington é uma afronta aos brasileiros. As justificativas apresentadas pelo presidente e seu filho beiram o ridículo. Esse tipo de atitude só serve para manchar a imagem do País no exterior.
Na quarta-feira, por exemplo, Bolsonaro falou que o filho “rodou o mundo e tem amizade com a família Trump”. Também declarou o Eduardo está com “inglês muito bom”. Para piorar, o presidente criticou ainda a atuação das embaixadas brasileiras nos últimos anos e criou uma crise interna no Itamaraty ao afirmar de desde 2013 nenhum embaixador fez nada de bom para o Brasil.
Vale lembrar que a Embaixada em Washington é o posto diplomático mais importante e mais disputado do planeta. Historicamente são nomeados para o ocupar o cargo nos Estados Unidos funcionários de carreira experientes. Com a possível indicação do seu filho, o presidente estaria quebrando uma tradição
Eduardo ocupa a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, mas até agora não obteve grandes feitos no cargo. A avaliação de especialistas, inclusive, é de que até aqui a sua atuação tem sido bastante tímida.
Não à toa, nomes de destaque no cenário diplomático têm atacado a proposta de Bolsonaro. Foi o caso do embaixador em Washington entre 1986 e 1991 e ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira. Para ele, a nomeação do deputado para a representação diplomática do Brasil nos Estados Unidos deveria ser “repensada”. O trabalho de um embaixador está ligado a problemas nacionais, de comércio, da dívida externa, do crédito, não é meramente político e Eduardo não demonstrou ter habilidades nesses temas.
Já o ex-embaixador nos Estados Unidos entre 1991 e 1993 Rubens Ricupero tratou a decisão de Bolsonaro como uma “medida sem precedentes na história diplomática de países civilizados e democráticos”. Ricupero fala com a autoridade de ser um dos diplomatas brasileiros mais respeitados com a experiências de ter atuado como secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Toda a movimentação de Bolsonaro em torno do filho foi estratégica. Na semana passada, Eduardo completou 35 anos, idade mínima para um brasileiro assumir uma representação diplomática no exterior.
Apesar da indicação do presidente, o seu filho terá de passar por sabatina no Senado. Certamente será um momento de desconforto. A Embaixada do Brasil em Washington tem, entre outras tarefas, a missão de trazer negócios e investimentos ao País e tem de ser nas mãos de pessoas realmente capacitadas. Os Estados Unidos são uma sociedade muito complexa. O embaixador tem de ter não só uma boa imagem, mas uma boa representatividade.

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