Matéria

Patrimônio histórico do Ipiranga será reformado

A realização de obras emergenciais de recuperação é, por ora, a única intervenção prevista para o antigo edifício do Noviçado Nossa Senhora das Graças das Irmãs Salesianas, o número 130 da Rua Clóvis Bueno de Azevedo, paralela à Avenida Nazaré. Apesar de materiais publicitários distribuídos na região terem anunciado que o imóvel abrigaria estabelecimentos comerciais e que prédios de alto padrão de até 10 metros de altura seriam construídos no seu lote – uma área de aproximadamente 10 mil m² que ocupa o quarteirão entre as ruas Moreira Costa, Dom Luís Lasanha e a Gama Lobo – não há nenhum projeto definido para a área.
Essa foi posição transmitida por representantes da atual dona do local, a construtora Alfa Realty, em audiência pública realizada no último dia 24, na sede da Adevaf. O evento, convocado pelo vereador Aurélio Nomura (PSDB), tinha por objetivo esclarecer a comunidade sobre o destino do lote e do imóvel. Muitas das cerca de 40 pessoas presentes temiam pela preservação do casarão e pela descaracterização de seu entorno.
Andre Davidocivi, diretor da Alfa Realty, assegurou, porém, que ainda não há vocação definida para o terreno. “A ideia sempre foi restaurar o edifício. No restante da área, pensávamos em construir um centro de saúde. Depois, surgiu a ideia de um residencial de uso misto. Mas todos os estudos foram paralisados, inicialmente, por conta da pandemia e, depois, com a alta dos insumos da construção civil”. Hoje, segundo o executivo, além das duas destinações, a empresa também analisa a possibilidade de construir um centro educacional ali.
O atual projeto de construção de edifícios residenciais com gabarito de 10 metros – o máximo permitido no local – é diferente do que constou em material publicitário divulgado na região. “O que estudamos hoje é realizar um empreendimento muito menor do que o pensado inicialmente”, disse Davidocivi. Segundo ele, em 2020, logo após adquirir o lote, a Alfa firmou parceria com uma outra empresa, dono de metade do terreno – a que fica atrás do noviçado. Desta forma, o lote que seria ocupado pelas novas edificações totalizava 10 mil m².
“O edifício histórico abrigaria centros comerciais e de serviços e parte dele seria destinado à hotelaria. No restante do quarteirão, seriam construídos os edifícios. Chegamos a realizar pesquisa de mercado e desenvolvimento de produto. Porém, com a pandemia, o plano foi paralisado”. Na sequência, conforme o executivo, a alta dos insumos da construção civil acabou por inviabilizar a ideia e a sociedade com a proprietária da outra metade do quarteirão foi desfeita. Hoje, a área que pertence à construtora tem aproximadamente 5 mil m².
A desistência do projeto ocorreu antes mesmo que as licenças para o empreendimento fossem solicitadas aos órgãos competentes. Presente à audiência, o diretor Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) e vice-presidente Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), Orlando Paixão, disse que não poderia se manifestar sobre as características do projeto arquivado, porque as entidades que representa, “em nenhum momento, foram provocadas”. Representantes das secretarias municipais de Urbanismo e Licenciamento e de Cultura fizeram declarações no mesmo sentido.
O único plano em curso para o edifício é o pedido de autorização para a realização de reparos emergenciais. A Alfa estaria, conforme seus representantes, colhendo os documentos para protocolá-los junto ao Conpresp e ao Condephat. Juntamente, será encaminhado um estudo sobre as condições gerais do noviçado.
Os reparos necessários foram identificados pela Ambiência, empresa especializada em restauro de imóveis que, dentre outros, realiza atualmente obras no casarão da família Jafet no número 825 da rua Bom Pastor. “Foram examinados fachada, caixilhos, cobertura, madeiramento, dentre outros, que devem ser reparados para assegurar a sobrevivência do edifício ao longo do tempo. Mas só podemos fazer as obras necessárias após a aprovação do projeto”, disse Marina de Melo, arquiteta da Ambiência.
Moradora do bairro, Nelsira Mendes apontou a necessidade de que uma nova audiência pública seja realizada quando houver a definição do destino do lote. “O Ipiranga é um bairro histórico e tem sofrido um processo de descaracterização acelerado. O ideal é que o imóvel seja preservado, assim como seu entorno”. Outro ipiranguista, João Ribeiro, que, há seis anos, voltou a residir no bairro onde passou a infância e a juventude, tem a mesma opinião. “Participar de uma audiência pública para discutir a restauração de um edifício é muito positivo. Mas há poucas informações concretas e precisamos voltar a discutir o que será feito no terreno”. Segundo Davidocivi, a Alfa deve levar até mais um ano para definir a vocação do lote.
Abandonado desde 2010, após o despejo da Universidade São Marcos, o edifício foi alvo de uma operação policial em 2012, quando foram localizadas partes de corpos humanos – alguns quase inteiros – em um tonel que havia sido enterrado no jardim. Conforme reportagem publicada pela Folha de S. Paulo na época, eram utilizados no curso de enfermagem da instituição de ensino, que foi descredenciado pelo MEC no mesmo ano.

Artigos relacionados

11 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo