A despedida
Era importante acordar naquele dia para ver o que acontecia ao seu redor. Tinha que estar acordada embora fosse dormindo que ela gostava de sonhar. A falta de tempo que lhe consumia quando acordada roubava toda a sua esperança. Sabia que estava com pouca capacidade de amar, mas havia motivos para que não desistisse. O amor a deixava muda pela maneira como atropelava tudo pelo caminho. Tornava-a radiante e capaz de sentir cada pequena partícula do seu corpo viva. Queria ser uma matéria e não uma pessoa para seguir o fluxo das coisas e não ter que lutar contra o impossível: ela mesma.
A batalha era uma processo conhecido, teve algumas ao longo dos eternos conflitos internos que viver desperta. Visivelmente insatisfeita com o tom de voz das pessoas, experimentava fugir. Era gratificante não retornar mais para todo o resto. As marcas determinantes eram esquecidas e o tempo a adormecia novamente. Era dormindo que ela gostava de sonhar, mas tinha que estar acordada para ver o que acontecia ao seu redor.
Esperou o que julgou ser o mais próximo do último momento para que fosse obrigada. Se tivesse tempo ia querer recuar, por isso não deveria haver espaço para qualquer outra coisa que pudesse fazer com que ela se sentisse partícula nem por um instante que fosse.
Pensou que tinha medo e assumiu ser pequena. Esqueceu os eternos conflitos internos que viver desperta e fingiu se despedir. A batalha agora era fugir mais uma vez para apagar as marcas determinantes. Não tinha mais vergonha de seus pensamentos secretos, só não queria estar lutando contra o impossível: ela mesma. Apagou todas as vezes em que foi partícula, discursou sozinha num processo que atropelava tudo pelo caminho e perdeu um homem precioso.