Capela; vendinhas; museu desativado; réplica de cadeia pública; fachada de convento; paço municipal; casinha de coveiro; casa da Marquesa de Santos; praça central; galpão que simulava uma senzala e imóvel com quatro dormitórios que remetem a uma antiga residência dos anos 40, formam uma vila colonial que remente ao século XIX e fica na Aclimação.
O local foi idealizado e construído nos anos 60 por Raful de Raful, um caixeiro viajante com descendência de libanês e italianos nascido em 1913 e falecido em 2003. Todo a estrutura da vila foi realizada com material original do século XIX, advindos de demolição à época.
No vilarejo, toda história remetente a dois séculos atrás se misturam com uma diversidade de objetos históricos de diferentes segmentos, colecionados pelo próprio Raful, que era ainda reconhecido como um dos primeiros colecionadores de carros antigos do país, chegando a ter treze carros em seu patrimônio.
Durante visita do jornal, uma sala recém-inaugurada, com coleção de garrafas por formato, a qual será utilizada também, como escritório, foi aberta com exclusividade.
Enquanto vivo, o idoso era criterioso quanto a quem poderia frequentar a vila, chamando apenas conhecidos próximos para poder fazer parte do seu mundo, que havia sido construído para degustação própria.
Mas, em 2021, Victor Raful, neto do fundador da Vila, decidiu reunir colecionadores e interessados em alguns dos objetos guardados na residência a fim de fazer uma “venda de garagem”. A partir da ação, o turismo foi se mostrando cada vez mais interessante para o ambiente.
“A partir do momento que eu trouxe algumas pessoas aqui em 2021, eu vi pelo olhar das pessoas o que elas sentiam daqui. Esse olhar outras das outras pessoas se emocionando, gente que vinha há 50 anos aqui, que não vinha, que veio comprar muita coisa dele, eu fui vendo esse olhar e vi que isso aqui é um conteúdo muito bacana que podia ser uma plataforma de trabalho e encontro poderoso de pessoas”, contou Victor.
Ainda segundo ele, a ideia seria, de fato, criar no patrimônio histórico um “clima de vila”. A partir de então, o rapaz foi permitindo todo conteúdo oferecido para influenciadores interessados, levando também guias de turismo para conhecer.
Foi em julho deste ano, que Victor decidiu, de fato “abrir as portas” da vila oficialmente para que todos os interessados em conhecê-la pudessem desfrutar deste momento. “Desde então, tem muita gente trazendo umas ideias para cá e está sendo uma vitrine muito bacana e um “point” para São Paulo”, disse ele, frisando “estar aberto para conversar” sobre tudo o que for produtivo para vila.
Raful afirmou ainda que escolas e pessoas de arte/cultura também estão aparecendo para poder realizar a visita. “Naturalmente as coisas estão se expandindo. Eu estou deixando em um movimento muito orgânico”, pontuou, alegando estar sendo “bem receptivo” com todos.
À reportagem, Victor abordou ainda, sobre manter o legado deixado por seu avô, através das visitações à vila. “É muito bacana você ver o que é a palavra legado, de fato. Já está na terceira geração e a gente abrir isso aqui [é] para passar o que ele [o avô] queria”, expressou, frisando que conforme começou a imergir para a vila foi compreendendo cada vez mais os pensamentos de Raful Raful.
“Eu tive essa interação com as coisas dele aqui, entendendo mais a cabeça dele, quando eu comecei a trabalhar aqui dentro. Teve essa imersão. E passar o que ele queria. Ele viu o belo em cada coisa. Viu detalhe nisso. Talvez o maior tesouro que ele deixou não foi a coleção. Foi o que ele criou aqui”, apontou.
Os interessados em visitar a vila colonial, localizada na Rua Rubi, 50, devem entrar em contato com o Victor Raful através de seu Instagram: @victor.raful, por onde o link para os ingressos estão disponíveis. Por lá, inclusive, ele posta tudo o que está acontecendo no espaço.