As declarações do presidente Jair Bolsonaro não têm contribuído para o bem estar dos brasileiros fora do País. A última foi de que “a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer fazer bem ao povo americano”, em entrevista à emissora Fox News. Depois, o presidente tentou remediar, dizendo que cometeu “um equívoco, um ato falho”, mas o estrago já estava feito.
No dia anterior, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também havia afirmado que “brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, é vergonha nossa”.
A vida de brasileiros que moram no exterior, ao contrário do que muitos pensam, não é um mar de rosas. Todos os dias, os imigrantes cruzam com pessoas que acreditam que os brasileiros não deveriam estar naquele país. O desafio diário é tentar convencer que, desde que esteja em situação legal no país, não há nada de errado nisso.
Declarações como a de Bolsonaro só servem para dificultar a vida dos brasileiros que moram nos Estados Unidos ou em qualquer outro país. Adicionou uma carga imensa a mais nesses imigrantes. Calcula-se que cerca de 1 milhão de brasileiros vivam nos EUA.
Especialistas em questões migratórias apontam que a declaração de Bolsonaro terá um efeito dominó. Isso significa que o estigma sobre os brasileiros deve aumentar, estimulando as pessoas a se isolarem ainda mais. O curioso é que algumas reportagens mostram que a maioria dessas pessoas que moram nos Estados Unidos votou no atual presidente. É por isso que tal declaração é um tiro no pé.
Entre os brasileiros que vivem no exterior, 99,99% são pessoas de bem, têm famílias, com crianças, que estudam e pagam seus impostos. O pior é que muitos são tratados como criminosos. Quem não tem documento, muitas vezes, deixa de procurar a polícia para denunciar crimes de que são vítimas, como violência doméstica ou abusos trabalhistas.
À Fox News, Bolsonaro se esqueceu de lembrar que milhares de pessoas só deixaram o País porque o Brasil não lhes ofereceu condições. Sendo assim, buscaram no exterior uma vida melhor.
O presidente tem sido muito criticado por oferecer muito aos americanos e receber pouco em troca, com concessões unilaterais. No caso dos vistos para turistas, por exemplo, os americanos não precisarão mais de autorização para entrar no Brasil sob o argumento de que medida poderá aumentar os ganhos do País. Já para os brasileiros a exigência de visto continua.
Ou seja, a reciprocidade, um princípio básico da diplomacia, não está sendo respeitada. A justificativa de Bolsonaro de que numa negociação alguém tem de estender o braço primeiro e, nesse caso, quem estendeu as mãos em primeiro lugar foi o Brasil, é muito frágil. A tendência é de que se a vida dos brasileiros que moram do País já não era fácil, não será por causa de Bolsonaro que vai melhorar.
