Queria aprender a transver o mundo
Faz algum tempo que minhas leituras têm se restringindo somente a poesia. Tem me acalmado o coração e a alma, apesar de haver tantas inquietações nesta maneira de escrever, que acho que a sua função natural na verdade é desacalmar.
Manoel de Barros tem sido o escolhido e após ler três livros seguidos do autor já consigo identificar seus traços, saber suas palavras, conhecer suas antíteses, criticar sua repetição e gostar de gostar da maneira como ele vê a natureza.
Para os interessados, as palavras desacostumadas que me fizeram companhia nos últimos tempos pude encontrar em “Memórias Inventadas – A Terceira Infância”, “Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo” e “Livro sobre Nada”.
Manoel é repetitivo para mim, o que não diminuiu sua sabedoria e amor com que usa as letras. Seu trabalho é pequeno. Não vejo a pretensão de ser grande em seus versos, mas mesmo assim ele consegue ser gigante, ultrapassando qualquer fronteira estabelecida por nós.
Queria ser simples como ele. Falar de um pássaro do jeito que ele é ou comparar uma pessoa a uma árvore. Aprender a transver o mundo. “Tirar da natureza as naturalidades” ou “fazer cavalo verde” por exemplo.
Mas ainda assim se isto não me bastar, que as palavras dele me achem e me façam poeta. E se meus leitores não compreenderem este meu ímpeto de poeta fracassada, que eu seja lida pelas pedras.