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Primeiro pai solo do Brasil é advogado no Ipiranga

Ser pai é doar-se a cada instante da vida. É uma entrega total, ainda que muitos não tenham essa vocação, mas ser pai sempre foi o sonho do advogado Eduardo Veríssimo Inocente. Esse sonho ele carregava desde os 17 anos e, hoje, aos 46 anos, é o primeiro pai solo do Brasil.

Nesse domingo, dia 11, quando no Brasil se comemora o Dia dos Pais, será um dia muito especial para Eduardo, pois vai comemorar ao lado do seu maior tesouro, os gêmeos Julia e Vitor, de 6 anos. Eduardo e Vitor viveu boa parte de sua vida no Ipiranga e atualmente tem um escritório de advocacia na rua Costa Aguiar.

Ele carregava consigo o sonho de ser pai, tentou, em um primeiro momento, partir para um processo de adoção, mas por conta da demora para uma conclusão, as coisas não saíram conforme o esperado e ele acabou “desistindo” desta tentativa.

Em 2014, ele viu a possibilidade de seu sonho se tornar real, quando descobriu que no Nepal o procedimento de barriga de aluguel era possível e programou uma viagem para o país asiático, que aconteceu em abril do ano seguinte (2015). Sua expectativa era das melhores possíveis para que desse tudo certo.

Durante a passagem por lá, Eduardo aproveitou para conhecer o útero através do qual seria fertilizado “seu provável filho”. “Eu pensei, “que legal, porque eu posso ter um filho através de um processo de barriga de aluguel, não preciso esperar tanto pelo processo de adoção”, pensou o rapaz à época.

Quando pensou que tudo estava dando certo e caminhando rumo à sua realização, foi pego de surpresa com a notícia de que um terremoto de magnitude 7.5, o qual devastou Katmandu, capital do país e local onde seria feito o procedimento. Além de certa frustração, Eduardo agradeceu, pois havia voltado do hemisfério norte no dia anterior à catástrofe.

Sem sucesso, Inocente partiu para o México, conheceu a barriga, mas por lá os embriões não estavam sendo criados, após oito tentativas realizadas. Seu processo, por lá, perdurou entre 2015 e 2017. Durante este período, um embrião foi fecundado, o qual seria de uma menina, e foi colocado no útero.

Durante o período do exame Beta HCG, para descoberta da gravidez, Eduardo foi surpreendido novamente: o governo mexicano de 2017, comandado pelo presidente Enrique Peña Nieto, havia baixado um decreto o qual dizia que o processo desejado pelo brasileiro só poderia ser realizado por mexicanos, com autorização médica, a partir de então.

A mulher que iria parir para Eduardo não havia ficado grávida. A notícia, de certa forma, foi um alívio para ele por conta da nova legislação, mas ao mesmo tempo, a realização de sua vontade parecia cada vez mais distante.

“Sério, eu já tinha gastado muito dinheiro [nas tentativas pelo exterior], aí eu falei “chega! Não quero mais fazer”. Não é para ser. Acabou. Não aguento mais gastar dinheiro”, comentou com a reportagem após suas frustrações com tentativas em vão.

Porém, como o ditado diz “o que tem que ser, tem força”, no seu coração, ele ainda carregava uma certeza de que seria, de fato, pai e após meses de reflexão, descobriu que mudanças no CRM do Brasil fizeram com que fosse permitida a fertilização in vidro através de uma pessoa que não fosse familiar.

Até então, pelas regras dos Registros Civis, o procedimento só era permitido, a doadora precisaria ter até 4º grau de parentesco, coisa que Eduardo não tinha. “Minha família é pequena”.

Neste período, a filha de uma mulher que trabalhava com sua mãe, decidiu ajudar o homem sonhador e se prontificou a ser barriga solidária. Em um primeiro momento, ele não acreditou muito que pudesse dar certo, mas conversou com a garota. “Quando eu conversei com ela, o santo bateu”, disse ele.

Após a conversa e “tudo acertado” entre eles, o feito inédito parou momentaneamente o Brasil: junto ao único médico que fazia o processo no país, Eduardo foi primeiro homem a ter autorização do CRM para fertilização em uma mulher que não fosse sua parente.

“Eu falei para o doutor”; a gente vai fazer uma tentativa. Se der certo deu, se não der, não deu”, expressou Veríssimo ao médico, ainda com algumas desconfianças e certo medo.

Pensando em possíveis contratempos “no meio do caminho”, Eduardo Veríssimo, advogado de formação, criou a Escritura Pública de Declaração de Consentimento Prévio relacionada ao assunto e um Tema de Conduta e Consentimento, para levar mais segurança jurídica ao processo.

No começo, Eduardo passou por dificuldades de aceitação no Cartório, onde seu caso ainda não era conhecido. Mas após nova persistência, tudo saiu dentro do previsto e após tantos contratempos e tentativas consideradas “em vão”, Eduardo descobriu que não só iria conseguir se tornar pai, como teria dois filhos: a gravidez era de gêmeos.

Os pequenos Julia e Vitor nasceram em março de 2018. Hoje as crianças estão com seis anos e são a alegria de Veríssimo. “Ser pai, para mim, era uma questão de alma. Eu tive uma dificuldade, inicialmente, para me enquadrar nesse papel, mas quando eu me enquadrei no papel de pai da Julia e do Vitor [a paternidade] fluiu com muita tranquilidade para mim. Eu nasci para ser pai”, frisou Eduardo, atualmente, com 46 anos.

Um dos seus maiores desejos é poder formar em seus filhos cidadãos de caráter, que terão valor. Os pequenos também são muito amados por seus avós, pais de Inocente, além de uma amiga dele que se tornou madrinha e referência materna dos dois

“Eu nunca imaginei que o meu processo ia repercutir, ao ponto de ser referência de outros casais. Inicialmente, eu só queria ter filho. Mas saber, que na verdade, a minha história e eu como advogado sou um instrumento para que muitas pessoas possam realizar seus sonhos da paternidade, da maternidade, constituir a sua família, me traz uma satisfação”.

Atualmente, dezenas de pessoas procuram Eduardo para apoios jurídicos na realização do mesmo procedimento pelo qual ele passou. “Eu entendo até como uma certa missão que eu faço isso”, afirmou, alegando ainda que fica muito feliz ao receber a notícia de que outros filhos nasceram.

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