“Precisamos igualar o Ipiranga de cima com o Ipiranga de baixo”

Precisamos igualar um pouco mais o Ipiranga de cima ao Ipiranga de baixo”. A frase que soa como protesto, na verdade também é um sinal de alerta, ligado através de uma das maiores vozes musicais do Ipiranga e, consequentemente, referência do rap nacional. Estamos falando de nada mais, nada menos que Rappin Hood. O cantor, que mora no Ipiranga desde os três anos de idade, e sempre esteve lado a lado com as causas sociais da região, faz um pedido em torno do bairro que mora no seu coração.

Nascido no bairro do Limão, Rappin Hood mudou-se para o Ipiranga em 1974. E acompanhou de perto todas as mudanças pela qual a região ipiranguista passou por todos esses anos. Com a experiência de quem morou em diversos subdistritos da região, ele diz o que pensa sobre o bairro da independência. “O Ipiranga é um bairro maravilhoso de se morar. Temos de tudo aqui. Mas ainda falta um pouco dessa questão estrutural, principalmente do túnel pra cá. Queremos faculdades, bancos, grandes lojas nas regiões mais carentes. Se você for analisar de perto, existem morros no Rio de Janeiro que têm o mesmo número de habitantes que Heliópolis, mas não a mesma estrutura. Tudo fica longe para quem mora na outra parte do Ipiranga. Nunca vi uma faculdade na Estrada das Lágrimas, por exemplo”, analisa o cantor.

A carreira musical de Rappin Hood tem forte ligação com o bairro onde cresceu. Sua primeira experiência de fato ao lado de uma referência na música aconteceu na rua Silva Bueno, na extinta casa de shows Vila de Ouro. “Era um lugar maravilhoso onde grandes nomes da música faziam shows nos anos 80. E ali conheci o Tim Maia. Quando fui me apresentar, ele disse que já me conhecia e que eu seria o futuro do hip-hop. Imagina um garoto com 16 anos ouvindo isso? Cheguei em casa, contei para minha mãe, mas ela não acreditou”, recorda, aos risos.

Posteriormente, a carreira de Rappin Hood decolou. O sucesso “Sou Negão” estourou, com as vendas de discos e Lp´s na época ultrapassando a marca de 75 mil cópias, passando assim, a ser tocado em todas as rádios do país. Fato esse que alavancou a carreira do músico e o fez ser conhecido em todo o território brasileiro. Além disso, o possibilitou conhecer diversos países mundo afora. Mesmo passando por muitos lugares, ele nunca abandonou a região.

“Meu primeiro lugar morando aqui (no Ipiranga) foi a rua Lúcia, na Vila Nair. Depois, passei a morar na rua Arco e Flecha, que mudou de nome. Ainda passei pela (Rua) Marques de Olinda, e depois, com dez anos de idade, meu pai conseguiu uma casa na Vila Arapuã, através de um leilão, e nunca mais saí daqui”, relata o músico.

Em sua história pelo bairro, Rappin Hood também foi vice-presidente da escola de samba Imperador do Ipiranga, gravou um clipe com a sambista Leci Brandão no campo da Unidos da Vila Carioca e teve o Museu do Ipiranga como fonte para uma de suas criações. A foto do marco da independência foi capa de um dos seus discos na época do trio Posse Mente Zulu. O músico realizou projetos sociais no Clube da Comunidade Parque Fongaro, local da entrevista, na Vila Arapuá, e tem uma grande legião de fãs espalhados na região e pelo Brasil afora.

Com a experiência de quem já gravou com grandes nomes da música como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Placa Luminosa, Zélia Duncan, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz, entre outros, Hood conta o que espera do futuro da música e do Ipiranga.

“Temos muitos jovens com qualidade para serem grandes músicos no futuro, em nossa região. O Instituo Baccarelli é um deles, por exemplo, que leva jovens do Heliópolis, para mostrarem seu trabalho no mundo inteiro. Essa geração atual é muito boa. Como morador, torço para que o Ipiranga tenha bons subprefeitos, pessoas que se identifiquem com a história do bairro, que tem muito a contribuir com o país. É um ótimo local para empresas investirem e as crianças crescerem. Venham para cá, e seja um passeio tanto do lado mais monárquico do bairro, ou nos becos e vielas, você pode acabar encontrando o Rappin Hood, trocar uma idéia, bater uma foto, que sempre será bem vindo”, finaliza o bem humorado cantor e compositor.