Onda de suicídio
Deslumbrado com os arranha-céus, o jovem caminhava calmamente pelo Viaduto do Chá quando, de repente, alguém salta para a avenida morrendo instantaneamente. Susto! A imagem está na memória. Depois disso, o tema frequenta ocasionalmente suas preocupações. Agora, parece, estamos tendo surpreendente onda de suicídios.
O suicídio é multicasual, mas sempre há um fator determinante, algo que dispara a propensão de quem está saturado por suas perturbações. Em geral, há certa desordem mental diante do fardo da vida, aquele que a pessoa não vê saída racional e age de forma extremada e imprevisível. Neste momento, há ondas localizadas.
No Chile, em função do sistema de aposentadoria, um casal com mais de 70 anos cometeu suicídio, causando comoção. Lá, os suicídios na terceira idade são três vezes maiores do que a média do país. As AFPs (Administradoras dos Fundos de Pensão), na maioria, aplicaram os recursos fora do país e hoje os valores pagos aos beneficiários são ínfimos e insuficientes. O sistema foi implantado há 40 anos.
No Brasil, embora as notícias tenham se escasseado, há um número crescente de suicídio entre os índios. Os dados mostram que cresceu entre 2016 e 2017 e o Simi (Conselho Indigenista Missionário) diz que a média está por volta de 100 casos por ano. As causas são as devastações, invasões possessórias e a expulsão de populações indígenas de seu habitat natural, entre outras.
O suicídio recente da delegada Maria Cássia Almagro Mezzomo despertou o olhar para o crescente número de suicídios entre os policiais brasileiros. Segundo dados da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, o suicídio de policiais está entre as duas maiores causas de mortes na Polícia Militar, perdendo apenas para os homicídios contra agentes em dias de folga.
Nos Estados Unidos, o número de mortes por suicídio de soldados supera a quantidade de mortes registradas em combates. Desde o inicio da década, o NYT (New York Times) tem abordado o assunto, chegando a divulgar que, em 2011, 154 soldados se suicidaram enquanto as mortes em plena Guerra do Afeganistão foram de 124. Desde o governo de Barack Obama, cresceram os investimentos em atenção e assistência aos veteranos de guerra.
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que no mundo, deliberadamente, morre uma pessoa a cada 40 segundos. São cerca de 800 mil, mais ou menos a população de duas Rio Preto a cada ano. Foi-se o tempo em que os números eram maiores nos países nórdicos, embora por aquelas bandasainda continuem altos. Há outras mortes deliberadas por maus hábitos, como drogas, bebidas alcoólicas ou cigarros, mas talvez, aí concorram forças maiores do que a própria vontade.
Não sabemos o número dessas mortes em nossa cidade, mas, vez ou outra, surge alguma notícia dando conta de que isso também acontece por aqui. Devem existir estatísticas, mas não fomos procurar. Interessa o tema em si e é bom alertar sobretudo a juventude, cada vez mais desfocada de objetivos que dão sentido à vida. O suicídio é um mal moderno.
*Vice-presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)