O voto negro nas eleições de 2022
*Maurício Pestana
A poucos meses das eleições mais aguardadas do Brasil e ao que tudo parece não existe tempo e nem condições para mudanças radicais no quadro político que se apresenta. A disputa se dará realmente entre o presidente Jair Messias Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como o trabalho desta coluna é pautar diversidade nessas eleições, hoje quero focar no comportamento do voto negro me baseando nas últimas eleições.
Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil não tem tradição de pesquisar o voto racial. Existem poucos estudos sobre o comportamento do voto racial e a pergunta que sempre se faz é: esse voto existe, ele é de direita, de esquerda ou de centro? Na busca de entendermos esse voto, uma vez que não temos uma pesquisa recente sobre o assunto, resolvemos nos ater aos negros mais bem votados nas últimas eleições.
Do ponto de vista ideológico, há uma divisão muito evidente de negros e negras mais votados em nosso país, exemplo: Nas últimas eleições para deputados federais no Brasil, o deputado federal com uma das maiores votações de todos os estados foi Hélio Negão (PL), no Rio de Janeiro, subtenente do Exército, de direita e da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro. O deputado teve uma votação expressiva na periferia preta e pobre do Rio de Janeiro. O mesmo Rio que já havia dado uma votação expressiva para Marielle Franco e depois também votou em outras mulheres pretas da periferia e de esquerda.
Mas não se engane: dois anos depois, São Paulo elegeria a vereadora mais votada do país, negra, trans e de esquerda, Erika Hilton (PSOL), que também contou com votação expressiva das periferias pretas da cidade. No mesmo pleito, a cidade reelegeu Fernando Holiday (Novo) como o quinto mais votado da cidade, um político negro notoriamente de direita, contra as pautas dos movimentos negros, em sua maioria, de esquerda.
Não podemos esquecer que a capital do estado, que é o maior colégio eleitoral do país, teve em sua história um prefeito negro eleito, Celso Pitta, em uma coalizão de partidos de direita liderados por Paulo Maluf; mas hoje, na Assembleia Legislativa, duas vozes expressivas na luta contra o racismo foram eleitas com forte votação da comunidade negra, mulheres pretas e de esquerda: Erica Malunguinho (PSOL) e Leci Brandão (PCdoB).
Voltando para o início deste artigo, para onde se direcionará a maioria dos votos negros nessas eleições majoritárias? A resposta provavelmente será dada de acordo com a economia, pois, afinal, todas as pesquisas que não focam na cor do voto mostram que a questão econômica terá um forte impacto no voto este ano e entre os mais afetados pela crise econômica, com o desemprego e a inflação, é a população de baixa renda, majoritariamente negra.
Ou seja: direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, sabedora ou não da sua força, mesmo sem uma base de pesquisa mais aprofundada, o voto de pessoas negras nas próximas eleições, assim como foi nas eleições americanas, será decisivo. Resta saber como as estratégias das duas campanhas vão trabalhar ou ignorar esse voto.
*Maurício Pestana é jornalista e CEO da Revista Raça