O menor cão do mundo
Naquela manhã, ela não se preocupou em trocar de roupa e nem em arrumar o cabelo. Perdia muito tempo com as miudezas da vida e lhe faltava ânimo para o principal: tomar sol na calçada em companhia dos sabiás, bem-te-vis e pardais.
A cadeira vermelha de balanço ficava sempre no mesmo lugar. Era só abrir a porta, dar três ou dois passos em direção à rua e a cadeira estava todos os dias a esperar por sua dona e seu pijama branco com detalhes na barra.
Sentou muito confortavelmente, pousou a cabeça gentilmente no encosto e começou a observar. Pensou que deve ser muito agradável descansar embaixo dos carros em dias quentes, pois com frequência via gatos e cachorros cochilando sob os automóveis. Os felinos e caninos da vizinhança gostavam também de passar por entre suas pernas, lhe fazer carinho ou pedir comida.
Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, avistou como se não estivesse acreditando um pequeno cão. Talvez o menor cão do mundo. Era tão pequeno que cabia na palma de sua mão. Nesta idade já não se confia mais na imaginação e só lhe restou acreditar que aquela visita era real.
Perguntou para o animalzinho qual era o seu nome e tudo que recebeu em troca foram latidos capazes de atravessar a vizinhança inteira. O bichinho não mordia, não corria e nem brincava com os outros, só ficava imóvel a fitá-la. Tinha uma cara de culpa que ela sabia identificar com intimidade. Ficou tão comovida com tal familiaridade que não aguentou. Guardou o pequeno cão no bolso e levou-o para casa.