Manifestações são teste para Bolsonaro
Depois que milhares de estudantes saíram às ruas de todos os Estados do País na semana passada para protestar contra o contingenciamento de verbas para as universidades federais, simpatizantes do governo do presidente Jair Bolsonaro resolveram agendar para domingo (26) atos em pelo menos 60 cidades para apoiar pautas do Palácio do Planalto como a Reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro. Na lista de reinvindicações está também o pedido de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal como Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes.
A bem da verdade é que a manifestação de domingo será um duro teste para Bolsonaro. Se os seus aliados fracassarem e não conseguirem mobilizar um número ao menos razoável de manifestantes para as ruas, o ato poderá ser considerado uma derrota do governo, sinalizando fragilidade aos seus opositores.
Em reunião ministerial na terça-feira (21), Bolsonaro pediu aos integrantes de sua equipe que não compareçam às manifestações. O próprio presidente desistiu de participar de qualquer ato. A estratégia é não associar as manifestações de domingo ao seu governo. Bolsonaro foi ainda mais longe e chegou a pedir que a equipe ministerial não faça convocações em suas redes sociais e se distancie por completo do tema. Até mesmo comentários em público devem ser evitados. Bolsonaro, por exemplo, deve passar o domingo recolhido no Palácio da Alvorada acompanhando as manifestações pela televisão.
O curioso é que um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), defendeu as manifestações em sua rede social. A justificativa é de que “nada mais democrático do que uma manifestação ordeira que cobra dos representantes a mesma postura de seus representados”. Ainda de acordo com Eduardo, é curioso que protestos da esquerda são expressão da democracia, enquanto que manifestações da direita são consideradas erradas.
Com apenas cinco meses de governo, é inegável o desgaste de Bolsonaro. Grupos de direita estão rachados, sobretudo por causa de propostas de alguns mais radicais que beiram o absurdo, como o fechamento do Congresso Nacional e do STF. O presidente foi eleito democraticamente, mas parece estar encontrando dificuldade parademonstrar respeito pelo cargo e por suas responsabilidades. Ao insistir constantemente que o “problema do Brasil é a classe política”, Bolsonaro mantém tom beligerante da campanha eleitoral do ano passado e eleva cada vez mais a tensão do Executivo com o Judiciário e o Legislativo.
Isso é muito ruim para o Brasil. Esse clima de guerra não é bom para ninguém. Nessa “batalha” criada por Bolsonaro, não há vencedores. Todos saem perdendo, principalmente o povo brasileiro.