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Juiz usava identidade falsa no Fórum do Ipiranga

O septuagenário prédio do Fórum do Ipiranga – construído na década de 1950 e que mantém, até hoje, detalhes da arquitetura da época, como o saguão feito em mármore polido – foi palco de um dos mais inusitados escândalos do meio jurídico. O caso envolve o juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, que, ao longo de quase cinco décadas, atuou sob o nome fictício de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, encobrindo uma história de duplicidade de identidade e fraudes documentais.

Segundo as investigações do Ministério Público, José Eduardo criou uma persona ao inventar um suposto passado de descendência nobre britânica. Em 1980, ele teria comparecido a um posto de identificação da Polícia Civil e apresentado um certificado falso de reservista do Exército, um documento que dizia ser ele servidor do Ministério Público do Trabalho, uma carteira de trabalho e um título de eleitor, todos com o mesmo nome falso, e, assim, tirou um documento em nome de Edward Wickfield.

Ele, então, formou-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, na USP, e ingressou na carreira judiciária ao ser aprovado no concurso para a magistratura em 1995. Por meio de documentos falsos – como certidões e registros alterados – construiu uma narrativa que lhe permitiu atuar com o nome de Wickfield.

Sob a identidade falsa de Wickfield, o juiz atuou na 1ª Vara da Família do Fórum do Ipiranga, proferiu sentenças e conduziu processos sem que as partes soubessem da verdadeira identidade daquele que, por tanto tempo, se apresentou como descendente de nobres ingleses.

Quando questionado, ele dizia ser filho de pais britânicos. Afirmava também que usava o metrô para se deslocar ao Fórum João Mendes porque estava acostumado com o transporte público na Inglaterra. Também afirmou que fazia tratamento fonoaudiológico para diminuir o sotaque britânico.

O magistrado, no entanto, manteve ativa a identidade brasileira de Eduardo, que renovava periodicamente. A fraude foi descoberta em outubro de 2024, quando ele esteve no Poupatempo da Sé para pedir a segunda via da carteira de identidade. Foram encontrados dois registros diferentes associados às mesmas digitais.

O Ministério Público de São Paulo denunciou-o por falsidade ideológica e uso de documento falso, medidas que já levaram à suspensão do pagamento de sua aposentadoria superior a R$ 100 mil por mês. Segundo o MP, Edward Wickfield é na verdade José Eduardo Franco dos Reis, um cidadão de Águas da Prata, no interior de São Paulo, filho de José dos Reis e Vitalina Franco dos Reis.

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