Ipiranga se despede de Ênio

Um dos 118 abnegados que salvaram o Clube Atlético Ypiranga (CAY) da falência, Ênio Monte morreu na quarta-feira (12), vítima de infarto. Ele tinha 90 anos e, segundo amigos, estava sofrendo com a morte da esposa, Antonieta, há cerca de dois meses. O corpo do ipiranguista foi sepultado na quinta-feira (13), no Cemitério Vila Mariana.
As incertezas do CAY começaram em 1953, quando perdeu a sede no Parque Sacomã. Os três anos seguintes foram de debandada dos associados. Restaram apenas os 118 homens de ouro, como foram chamados os mecenas do Vovô da Colina Histórica. Mário Teles assumiu a presidência da agremiação, em 1956, em substituição a Jerônimo Maury, e com a ajuda dos abnegados sócios saldou todas as dívidas. A família Jafet também desempenhou um papel importante na recuperação do clube.
Engenheiro Civil formado na turma de 1951 da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Ênio assumiu a diretoria de obras na gestão Mário Teles e foi o responsável pela construção do Salão Nobre, entre outras benfeitorias ao CAY. A paixão por cavalos o fez se afastar um pouco do clube: passava mais tempo longe da rua do Manifesto, mas o coração estava no Vovô da Colina.
Ênio era um dos mais importantes criadores de cavalos do país e foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano (ABPSL). A entidade emitiu nota de pesar sobre o ocorrido: “O Doutor Ênio Monte foi um dos pioneiros da criação do cavalo lusitano no Brasil e um dos maiores incentivadores do cavalo de esporte no Brasil e no mundo”, diz o texto do atual presidente, Ismael Silva.
Ele era também proprietário do Haras Itapuã, localizado na cidade de Arandu, próxima a Avaré, no estado de São Paulo. O haras é o único no país cuja linhagem produz cavalos olímpicos e pan-americanos de salto, adestramento e concurso completo de equitação. Um dos destaques brasileiros no hipismo, o cavaleiro Doda (Álvaro Affonso de Miranda Neto) começou a e projetar no cenário internacional com um cavalo do haras de Ênio, o Aspen.
Ênio dedicou mais de 50 anos de vida a estudos, viagens e investimentos, que lhe renderam muitos amigos, alegrias e méritos. Foi também o responsável por incluir nas seleções olímpicas e pan-americanas cavalos que se destacaram nas modalidades de salto, adestramento e concurso completo de equitação.