Nem mesmo a forte e constante chuva que caiu sob o céu da Vila Carioca neste domingo impediu os devotos e fiéis da região de partirem em procissão pelas ruas do bairro, celebrando o Círio de Nazaré, tradição advinda de Belém, no Pará que é lembrada há 20 anos pelo bairro.
“Nossa senhora é mãe de Deus, a nossa mãe. Em Belém do Pará nós temos essa cultura do Círio há 230 anos. É uma tradição essa fé que a gente tem em Nossa Senhora, está vivo dentro da gente. Então, estando aqui em São Paulo, ou estando em qualquer outro lugar, tem que fazer [a procissão]”, contou Elder Campos, 69 anos, organizador do evento.
Neste ano, a caminhada dos fiéis fez o caminho inverso dos anos anteriores, partindo da Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida em direção à sede da Imperador do Ipiranga, onde uma estrutura foi montada para que a missa fosse celebrada no local. Comidas típicas do Pará foram oferecidas depois.
Campos explica que a mudança se deu por conta da falta de interesse do padre que sempre acompanhou a procissão em realizar a ação neste ano. “O padre não quis. Depois de vinte anos da nossa procissão, ele me chamou e disse que não ia ter a procissão, porque não fazia parte da cultura das pessoas da região e eu disse para ele que Nossa Senhora não tem cultura”, contou o organizador.
Porém, segundo ele, a comunidade se reuniu para que a tradição fosse mantida e a procissão acontecesse mesmo sem o apoio da própria igreja, tendo dado tudo certo ao final do dia. Elder celebrou a atitude. “Tendo chuva, ou não podendo sair da igreja, eu estou me sentindo muito abençoado por Nossa Senhora por ter conseguido fazer isso”, frisou.
Neste ano, como parte da comemoração, o Manto de Nossa Senhora de Nazaré foi trocado assim que a imagem da Santa chegou na quadra da Imperador. Pela primeira vez, em 2024, a Coroação de Nossa Senhora também foi realizada pelos devotos e fiéis da Vila Carioca.
“A importância [da realização do Círio] é muito grande, porque é uma devoção que a gente vê que se espalha, não só aqui em São Paulo. Nós temos em várias cidades do país, onde tem paraense, porque quando a gente nasce no Pará, a gente já nasce com essa devoção em Nossa Senhora, então, isso vem de berço, principalmente da comunidade católica”, afirmou José Carlos Queiroz, 66 anos, natural do Pará, mas que está morando em São Paulo e participou da Procissão.
Ainda, segundo ele, onde os paraenses vão, levam a devoção à Nossa Senhora de Nazaré. É uma devoção muito forte”, enfatizou, salientando que só sabe o sentimento de participar do Círio aqueles que de fato presenciam o momento. “Só dá para saber indo sentir, realmente, o que é o Círio”, pontuou.
José Carlos Júnior, 31 anos, é filho de José Carlos. Há pouco tempo em São Paulo, ele falou sobre as recordações de sua terra natal que ficam com a realização do Círio. “Para mim que estou de longe [do Pará], tem um sentimento ainda maior porque eu fico com saudade da minha terra. Não estou há muito tempo em São Paulo, estou há alguns meses, então é significativo demais”, disse.
Ele explica ainda que o Círio em Belém pode ser considerado o Natal deles, uma vez que, as famílias se reúnem, fazem ceia e celebram Nossa Senhora de Nazaré. “A gente gosta muito, tem um sentimento muito forte”, apontou.
Maria de Lourdes Almeida da Silva, 70 anos, e Maria Lucilene dos Santos Pereira, mais conhecida como “morena”, de 74 anos, são moradoras antigas da Vila Carioca, pertencentes à Imperador do Ipiranga e participam do Círio de Nazaré “desde quando começou”.
“É bom, porque é para ajudar a gente. Dar força, saúde para todos nós. Eu gosto, a gente acompanha a Procissão direitinho, é muito bom. Estou animada. Cheguei foi cedo aqui [na quadra da Imperador]”, expressou Maria de Lourdes.
“Eu gosto. Vim debaixo de chuva, cheguei aqui, a quadra estava fechada, fui para lá [escola de onde partiu a Procissão]. É muito bom, são todos unidos, vem acompanham a procissão. É muito bom. Eu venho porque quero minha saúde”, concluiu morena, celebrando o momento e encontro com os amigos.