Fatores regressivos
*Laerte Teixeira da Costa
Em momentos de nossa história, podemos elencar alguns acontecimentos que, vistos em retrospectiva, podem ser considerados regressivos. Não contribuíram para o amadurecimento da democracia ou não se tornaram marcantes do ponto de vista cultural. Isso é polêmico.
A começar pela Proclamação da República, sem dúvida motivada pela insatisfação das elites, contrariadas em seus objetivos econômicos.Olhando para trás, a República tem muito pouco do que se orgulhar. Nenhuma república tem um custo tão elevado quanto a brasileira.
Depois, os governos militares – a fase dos marechais ou República das Espadas – sufocaram qualquer tentativa de retorno monárquico. Em seguida, começou a República Oligárquica, em que se revezavam paulistas e mineiros, período conhecido como a Política do Café com Leite. Esse ciclo durou até Getúlio Vargas em 1930.
O período Vargas coincidiu com o começo da urbanização brasileira e durou até o final da Grande Guerra. Daí, sob a Constituição de 1946, iniciamos um período democrático, interrompido novamente pelos militares em 1964. A rigor, não encerramos esse ciclo, muitas de suas leis ainda estão em vigor.
Se olharmos atentamente, alguns foram momentos regressivos, nos quais não houve progresso institucional ou democrático. Aprofundaram-se a corrupção, a expansão da máquina pública e nasceu o poder das elites partidárias, oriundas dos extratos econômicos mais poderosos. Isso perdura no Legislativo.
Momento emblemático foi o da Constituinte, em que poderíamos ter dotado o país de um instrumento moderno e avançar para consolidar uma democracia nos trópicos. Sim, foi um avanço, mas deixou situações intocadas, entre elas a reforma política e a reforma sindical. Só poderia ter afunilado para o continuísmo.
Chegamos, em 30 anos, a uma eleição rigorosamente igual à primeira após a redemocratização. Ali, em 1989, dois extremos disputaram o segundo turno: Collor e Lula. Agora, em 2018, novamente optamos por dois extremos: Haddad e Bolsonaro. Passados trinta anos e, nos repetimos.
Claro, situações diferentes, mas estamos revezando entre opções semelhantes. Bolsonaro, de certa forma, reflete a volta dos militares ao poder, em discurso semelhante ao de Collor. Queremos crer que são pessoas diferentes. Antes que critiquem, vamos abrir um largo crédito ao novo presidente.
Não podemos torcer contra e nem predicar pelo pior. Há entusiasmo no ar e a classe média, a maior defensora da candidatura nas redes sociais, fecha os olhos para eventuais deslizes, como no caso do primeiro filho. Mas, esse é o início da jornada. Ela tem quatro anos e não pensem os novos inquilinos do Planalto que essa boa vontade vai permanecer.
Aconselhamos a cultura do aperfeiçoamento. Temos que aperfeiçoar as nossas instituições. Essa história de “acabar com tudo que aí está”, pode ter um alto custo. Melhor aprimoraro que não funciona bem. Tem muita coisa a aperfeiçoar e isso já seria um grande passo à frente e sem regressões.
• Secretário de Políticas Sociais da CSA (Confederação Sindical das Américas)
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