Eleição não é vale-tudo
Independentemente dos vencedores da eleição de domingo (28) para presidente e governador, essa disputa ficará para a história como uma das mais agressivas de todos os tempos. Talvez nunca o Brasil teve uma eleição com um nível tão baixo como agora. Os candidatos deixaram de lado as propostas para trocarem ataques entre si. Lamentável e triste para a jovem democracia brasileira, que não completou nem quatro décadas, desde o fim da ditadura militar.
Na terça-feira (23), por exemplo, circulou nas redes sociais um vídeo no qual um homem aparece em cenas íntimas com mulheres. O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, veio a público e classificou como “falso”, “mentiroso” e uma “montagem” o vídeo. No final da tarde, ele ainda publicou no Twitter e no Facebook um depoimento ao lado de sua esposa rechaçando o vídeo compartilhado. Ele disse que já pediu perícia criminal e que tomou medidas judiciais.
Na mesma terça-feira, em um ato político no Rio de Janeiro, o candidato à presidência pelo PT, Fernando Haddad, afirmou que o adversário Jair Bolsonaro (PSL) precisava de “tratamento psicológico”. A declaração veio momentos depois que o Ibope divulgou o resultado da segunda pesquisa do instituto sobre o 2º turno da eleição presidencial. O levantamento foi realizado entre domingo (21) e terça-feira (23) e tem margem de erro de dois pontos, para mais ou para menos, e mostrou Bolsonaro com 57% dos votos válidos e Haddad (PT) com 43%. Na pesquisa anterior, Bolsonaro tinha 59% e Haddad, 41% dos votos válidos.
O clima bélico da campanha fez com que o número de policiais federais na escolta a Bolsonaro aumentasse de 25 para 30 e passou a incluir ainda agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro até o dia da eleição. Vale lembrar que durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), o candidato sofreu um atentado e levou uma facada na barriga no primeiro turno.
Bolsonaro é acusado pelos seus rivais de disseminar o ódio durante a campanha. De fato, ele e as pessoas que estão no seu entorno têm dado declarações polêmicas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável, por exemplo, afirmou que bastariam um soldado e um cabo para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal). Esse tipo de manifestação é imprópria. Nem a ditadura militar fechou o STF.
O futuro presidente da República tem a obrigação de respeitar as regras do jogo. O Brasil não vai aceitar um regime autoritário. Há espaço para todos os tipos de pensamentos no País. O que o brasileiro não quer mais é político desonesto.
Por isso, não custa reforçar que o eleitor tem de votar consciente. É preciso analisar detalhadamente e com calma as propostas de cada candidato e escolher aquele que tem o melhor projeto para o País. O eleitor não pode se deixar influenciar pelo conteúdo disseminado nas redes sociais. Já está mais do que comprovado que muitas informações que circulam pela internet são falsas, impulsionadas de forma irregular e têm apenas o objetivo de destruir adversários. Por isso, as propostas de cada candidato são mais importantes do que qualquer coisa nesta reta final da campanha.