Nossa Opinião

Torcedor não pode se iludir

Na sexta-feira (26), começam os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. A delegação brasileira deve conquistar mais de uma centena de medalhas. A previsão é de que nossos atletas subam quase 200 vezes ao pódio.
A torcida brasileira, no entanto, não deve se empolgar tanto assim. Jogos Pan-Americanos não servem de parâmetro para Olimpíada. No Pan, por exemplo, os Estados Unidos, maior potência esportiva do mundo, costumam enviar uma equipe de segundo escalão, sem as suas principais estrelas. Sem contar que o Pan envolve apenas países das Américas, enquanto nos Jogos Olímpicos participam nações de todo o planeta.
Patriotismo à parte, é preciso destacar o valor dos atletas que representarão o Brasil em Lima. O Pan é o principal evento multiesportivo do ano. Para muitos competidores, é o momento de glória e a oportunidade de, enfim, chamar atenção do grande público. Por isso, somente o feito de viajar para o Peru já pode ser considerado uma vitória.
A garra e dedicação daqueles que entregam a vida pelo esporte é louvável, sobretudo em um país como o Brasil. O que não falta por aqui é mau gestor esportivo. Vejam o caso das atletas da seleção brasileira de nado sincronizado, que precisaram fazer uma “vaquinha” para comprar maiôs e tiveram de ser socorridas pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) porque a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) está quebrada e com o pires na mão.
É triste, porém, não se faz esporte no Brasil sem dinheiro público. A Lei Piva repassa porcentagem das receitas das loterias federais ao COB, que distribui parte do dinheiro às confederações. A estimativa é que cerca de R$ 250 milhões sejam investidos no esporte durante o ano somente de recursos da Lei Piva.
Não custa lembrar que em 2017 o ex-presidente do COB Carlos Arthur Nuzman foi preso acusado de envolvimento em um esquema de compra de votos para a escolha do Rio como sede da Olimpíada 2016. Nuzman renunciou ao cargo e está solto atualmente, mas o abalo à credibilidade da entidade ainda persiste. Patrocinadores e parceiros deram as costas ao esporte. Muitos daqueles que ainda investem preferem apostar diretamente nos atletas em vez de financiar entidades. É o caso, por exemplo, da Petrobras, que vai investir R$ 9,8 milhões até o final de 2020 em 25 atletas, menos do que a metade do valor dosJogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto, no Canadá.
Até o dia 11 de agosto, o Brasil será representado em Lima por 487 atletas, sendo 251 homens e 236 mulheres, em 49 modalidades. Muitas medalhas virão, mas o principal objetivo do País tem de ser classificar o maior número de atletas e modalidades para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. De nada adianta ser forte no continente se para o resto do planeta o Brasil não é protagonista. O Pan é crucial para o desenvolvimento do esporte nacional, mas o foco tem de estar nas grandes nações. Só assim é que o Brasil pode, quem sabe, sonhar em também ser uma potência esportiva, e não depender exclusivamente do futebol.

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