Nossa Opinião

Supremo debocha do povo

É um tapa na cara da sociedade brasileira a insistência de membros do STF (Supremo Tribunal Federal) em comprar itens de luxo, como lagosta e vinho, por um preço estimado em R$ 1,1 milhão. O TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) liberou a licitação do pregão que havia sido suspenso em decisão da Justiça Federal do Distrito Federal após o Supremo entrar na mira do Tribunal de Contas da União (TCU).
O pior é saber que mesmo com questionamentos do Ministério Público e críticas da sociedade, o STF deu de ombros e decidiu comprar medalhões de lagosta e vinhos importados para as refeições servidas aos seus integrantes e convidados. Há um claro desconforto entre ministros da Corte e indignação entre servidores do tribunal.
Diante da atual crise econômica enfrentada pelo Brasil, a mais importante instância da Justiça deveria dar exemplo. Mas faz justamente o contrário. O menu exigido pela licitação do STF inclui desde a oferta de café da manhã, com brunch, almoço, jantar e coquetel. A lista de exigências é vergonhosa: bobó de camarão, camarão à baiana e medalhões de lagosta. Com um detalhe: as lagostas devem ser servidas “com molho de manteiga queimada”. O cardápio exótico prossegue com bacalhau à Gomes de Sá, frigideira de siri, moqueca (capixaba e baiana) e pato assado com molho de laranja. Se não bastasse tudo isso, os ministros ainda exigem vitela assada, codornas assadas, carré de cordeiro, medalhões de filé e “tournedos de filé”. Sem contar, é claro, a caipirinha com “cachaça de alta qualidade”, envelhecida em barris de madeira nobre por um ou três anos.
O pior capítulo do edital é o dos vinhos. Se não for de safra igual ou posterior a 2010, envelhecido em barril de carvalho francês, por no mínimo de 12 meses, e que tenha ganho pelo menos quatro premiações internacionais, simplesmente não serve aos ministros do STF.
Não é de hoje que os excessos cometidos pelo Supremo têm escandalizado a sociedade. A última reforma no gabinete da Presidência da Corte, por exemplo, custou R$ 443.908,43. A obra incluiu até a instalação de um chuveiro. Tudo isso bancado com dinheiro público. O trabalhador paga altíssimos impostos por esse luxo e esses caprichos dos ministros do STF. É vergonhoso.
Como bem definiu uma ação popular movida por um servidor público estadual do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), um cardápio com tanto luxo viola os princípios da moralidade. A “novela da lagosta”, como está sendo chamado esse caso nas redes sociais, aumentou ainda mais o desgaste da imagem do STF. É evidente que os ministros do Supremo não precisam fazer como o presidente Jair Bolsonaro e comer no “bandejão”, como ocorreu no Fórum de Davos, em janeiro, já que aquele ato não passou de uma propaganda vazia, mas o cardápio com lagostas é um acinte.
O que a população espera de qualquer agente público, incluindo Bolsonaro e os ministros do STF, são boas práticas administrativas em defesa dos gastos públicos e em prol da saúde das contas do governo. É imprescindível que todo e qualquer ocupante de cargo público tenha bom senso e respeito ao cidadão, o que não parece ser o caso das lagostas do Supremo.

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