Arquivo do Tribunal de Justiça deixará o Ipiranga

Capítulos inesquecíveis da vida social e política de São Paulo fazem parte dos 9.5 milhões de processos do Arquivo do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que em breve vão trocar de endereço. Os documentos serão transferidos da rua dos Sorocabanos, onde se encontram desde 1995, para Jundiaí, no interior do Estado.
A mudança ainda não tem data definida, mas, segundo o presidente do TJSP, desembargador Manoel Calças, deve ocorrer ainda este ano. A operação vai durar 120 dias e, para a conclusão, serão necessárias 500 viagens de carreta. O TJSP está em, processo de contratação da empresa que fará o transporte.
O Arquivo custa aos cofres públicos R$ 15.9 milhões por ano, dos quais R$ 8.4 milhões apenas na locação do imóvel. Parecer técnico elaborado pelo TJSP calcula que, com a transferência, a redução anual nas despesas será de 47.8%. Há em Jundiaí e Jarinu outros 95 milhões de processos referentes às comarcas do interior. O local é administrado por uma empresa privada, que deverá se responsabilizar também pelos 9.5 milhões de processos levado dos galpões no Ipiranga. O Arquivo dispõe de 30 funcionários, que, após a transferência, serão remanejados para trabalhos internos no TJ. Abriga também 145 funcionários terceirizados, cujos empregos ficarão a cargo da empresa contratada.
É praticamente impossível visualizar 9.5 milhões de processos. Os números são gigantescos, mas uma das razões para o tamanho do Arquivo é que os processos estão impressos, e não digitalizados. Eles ocupam caixas de papelão, à semelhança de pastas, enfileirados em longas estantes espalhadas entre dois galpões. A maioria diz respeito a processos das Varas da Família. Cada caixa comporta em média dez processos, a depender do volume.
O processo mais antigo existente nos galpões do Ipiranga é o testamento do padre Marcelo de Almeida Ramos. Ele data de 1767 e, a exemplo de outros processos, está em estado de deterioração em função do tempo. As páginas não podem sair de dentro de um plástico, porque o papel pode desmanchar. O Arquivo abriga também cerca de mil processos de relevância histórica, chamados de reserva técnica. Eles estão armazenados em um espaço com ventiladores e climatizadores. Entre eles há crimes consagrados pela crônica policial. Um deles é sobre o médico Farah Jorge Farah, condenado pelo assassinato de uma paciente, em 2003. Há também o Monstro do Morumbi, Monstro do Jabaquara, o incêndio do Joelma, o massacre do Carandiru, a Marquesa de Santos e a inventário de Peixoto Gomide.