Brasil em queda livre
A imagem internacional do Brasil sofreu um duro golpe na terça-feira (5), quando a Polícia Federal deflagrou a operação intitulada Unfair Play com o objetivo de desmantelar um esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina em troca da contratação de empresas terceirizadas por parte do Governo do Rio de Janeiro e suposta compra de votos que teria dado à capital fluminense a condição de cidade-sede da Olimpíada de 2016.
O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, por exemplo, disse em sua decisão sobre o esquema da corrupção na Olimpíada de 2016, que “se forem confirmadas as suspeitas trazidas ao Ministério Público Federal do Brasil pelo Ministério Público da França, dito comportamento teria o potencial de transmitir mundialmente a mensagem de que o povo brasileiro é incapaz de alcançar conquistas legítimas”.
O procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio de Janeiro, foi na mesma linha. “É um vexame internacional termos um evento sediado a custo de propina e corrupção.”
Pois se na esfera esportivo os Jogos do Rio foram considerados um sucesso, a organização foi péssima. O Parque Olímpico da Barra é atualmente administrado pela União porque simplesmente não apareceu nenhuma empresa interessada em assumir a gestão do local. Pior: muitas arenas estão sem uso e a conta está sendo paga pelos cofres públicos.
É o dinheiro do povo, inclusive, que bancou a farra dos dirigentes. Desde 2001 recursos da Lei Agnelo/Piva, que destina parte da arrecadação das loterias federais ao esporte, vão para o COB (Comitê Olímpico do Brasil). Assim, o órgão transformou-se em uma entidade multimilionária. Em 2002, por exemplo, foram repassados R$ 50 milhões. Para 2017, esse valor se multiplicou e o COB trabalha com uma estimativa de arrecadar R$ 210 milhões.
Mesmo com a injeção de dinheiro público, o COB não conseguiu fazer do Brasil uma potência olímpica passadas mais de duas décadas da chegada de Carlos Arthur Nuzman à presidência da entidade. Agora, o cartola é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter ajudado na suposta compra de votos que deu ao Rio o direito de sediar os Jogos de 2016. Os procuradores acusam Nuzman de ter ajudado no repasse, a um dirigente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o senegalês Lamine Diack, de dinheiro de um esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).
Hoje com 75 anos, Nuzman teve vida ligada ao esporte. Como jogador de vôlei, defendeu o Brasil na Olimpíada de Tóquio, em 1964. Cartola, assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) em 1975 e ficou duas décadas. Em 1995 tornou-se presidente do COB e desde então está no cargo.
Agora, envolvido neste escândalo internacional de corrupção, Nuzman vê sua carreira entrar em queda livre. O cartola já decepcionou em abril deste ano, quando perdeu a eleição à presidência da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Apontado como favorito, acabou ficando em terceiro – e último – lugar. No mês seguinte, pediu demissão da Organização Desportiva Sul-Americana (Odesur), entidade que presidia havia 14 anos. É o retrato da decadência esportiva do Brasil.
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