Cultura & Lazer

A vida há de existir e resistir

Texto escrito por Paula Ramos

Eu já vi o mundo por diversas janelas. Já vi do alto de uma das sete maravilhas do mundo, já vi por um vidro de uma sala de parto, já vi sem óculos, já vi do fundo mar e vejo todos os dias por entre três palmeiras. Eu sempre olhei pela janela de casa e por isso agora, talvez, isso não seja um espanto.

Atrás das palmeiras tem um rio que não consigo ver, só sentir. Às vezes cheio, às vezes vazio, mas nunca limpo. Teve uma vez que ele veio até em casa, invadiu a rua, entrou pela garagem, e foi da janela que eu vi aquelas águas turbulentas assustar pessoas e levar carros.

Da janela, vez em quando também dá pra ver a lua. Não como aquela lua cheia da Barra do Una, em Peruíbe, que estupenda iluminou um dia cheio de conflito, mas uma lua que brilha no céu depois de um dia de cansaço.

O alívio entra pela janela em forma de raios que não queimam a pele, só me envolvem como seu calor. Aqui o sol vai embora cedo, não dura o dia todo como em Cumuruxatiba, na Bahia. Ah, que saudades eu tenho da Bahia…

E o vento? O vento daqui é fraco, só faz balançar e não tira nada do lugar. Diferente do vento de Parnaíba, que move anos luz de grãos de areia.

Pena que neste momento não dá para vocês se colocarem no meu lugar. As palmeiras hoje estão particularmente solitárias, parece que os sanhaçus, os mesmos que vejo todos os dias, foram dar uma volta. Eles saem quando querem, se mudam, migram, não têm raízes, têm asas. Já eu, fui forçada a criar raízes nesta casa e hoje a inexistência de presença tornou-se rotina.

Não me incomoda mais se os pássaros não vêm me visitar. Eu tenho o sol, a lua, o rio, as palmeiras e muitos sinais de que a vida há de existir e resistir.

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