A pomba teimosa

Ela não sabia que ao decidir ir na feira de domingo iria conhecer Júnior. Escolheu um dos muitos bancos desocupados da barraca de pastel e sentou-se. Ia mastigar sem pressa e não imaginava quanto tempo iria levar para isso, mas estava decidida. Foi quando percebeu Júnior.
– Júnior dois de Bauru.
– Júnior dois de Carne. Três de queijo e um de Pizza
– Júnior tá faltando um de Bauru.
– Júnior mais um de Pizza.
– Júnior colocou o de Queijo que eu pedi?
– Júnior tá errado. Eu pedi três de Queijo.
Júnior tentava dar conta enquanto seu nome era repetido sem parar. Às vezes um cliente mais amigo queria desconversar, falar sobre futebol ou política, mas Júnior não tinha tempo. Era tirar o olho da panela que já podia começar a se justificar.
– Você viu só o que aconteceu? Essa casca queimada não pode. É erro meu.
Ouvi atenta tudo que Júnior disse durante meu período de mastigação. Ele também disse que Feira é assim mesmo. Uma loucura. Mas foi quando precisou espantar uma pomba que ficamos íntimos. Queriam que ele controlasse a pomba teimosa. Invasora, Júnior tentou expulsá-la, mas dominar as asas de uma ave é de desconhecimento humano ainda. Foi quando rimos e Júnior me percebeu. Compreendeu perfeitamente que o tempo da minha mastigação tinha acabado e continuou a ouvir seu nome sendo gritado.