Perfeccionismo ajuda ou atrapalha?

“Complicada e perfeitinha” já dizia a música. Ao contrário do que muitos imaginam, ser perfeccionista não é propriamente um diferencial positivo de perfil. Essa característica pode acarretar muitos prejuízos e sofrimento emocional para o indivíduo.
Por definição, o perfeccionismo é um traço de personalidade que envolve a tentativa constante de ser o melhor em tudo que faz, com um medo excessivo de cometer erros. Estas pessoas consideram a perfeição como imprescindível para seu bom desempenho e acreditam que caso se desvincule dela estará fadado ao fracasso. A partir daí, acabam por se tornar um eterno frustrado, uma vez que a perfeição é inatingível!
A interpretação dicotômica (8 ou 80) é a sua lente para enxergar o mundo de maneira distorcida. Para ele, não existe meio termo. De um lado existem as pessoas perfeitas e do outro as que são totalmente displicentes, negligentes e despreocupadas. Também não é incomum estarem mais preocupados em manter as aparências, em se mostrar superior do que com o resultado em si.
As pessoas que funcionam neste padrão são acometidas por um modelo mental muito rígido, no qual o faz acreditar que nossas características são aspectos fixos, natos e, por isso, inalteráveis. Assim sendo, acabam por desvalorizar o esforço e o processo de aprendizagem e aperfeiçoamento. Costumam apresentar regras como: “se está me demandando muito esforço, então isso não deve ser pra mim”, “se não estou 100% pronto para fazer tal coisa, então melhor nem começar a fazer”, “se não vai sair perfeito como quero, então não vou nem tentar”.
O círculo vicioso do perfeccionista ocorre da seguinte maneira: traçam expectativas muito altas e na maioria das vezes irrealista e inatingíveis, ao desempenharem, inevitavelmente cometem alguma falha e não alcançam o esperado, com isso experenciam o insucesso e reforçam crenças de incapacidade, inadequação e não estima. Então, colocam metas mais altas, para que possam executar com mais perfeição, na tentativa de comprovar sua capacidade e novamente já sabemos quais serão os próximos passos.
Um outro modelo muito comum de funcionamento dos perfeccionistas é que acabam procrastinando (adiando) a realização de algumas tarefas importantes, por acreditarem não estar aptos para tal e, caso demande muito esforço, significa que o resultado provavelmente não sairá como gostaria (perfeito!). Então, crê que é melhor deixar para lá e fazer em outro momento, quem sabe quando estiver 100% preparado, o que sabemos que nunca ocorrerá.
Seja pela estratégia da falha ou da procrastinação, em ambos o perfeccionista está diante de expectativas irrealistas, que facilmente não serão atingidas, o que o faz se deparar com o fracasso, a frustração, gerando assim sentimento que não toleram e que os faz cair numa crise de tristeza, agressividade e culpa.
Como se pode ver, esse modelo mental pode trazer uma série de prejuízos. Nestes casos, com a ajuda da terapia cognitivo-comportamental o indivíduo perfeccionista compreenderá os motivos de seu comportamento e aprenderá a admitir que seu perfeccionismo, aquilo que considera uma qualidade, é escravização e está fundamentado na falta de autoconfiança. Aprenderá a ter uma visão mais flexível para aceitação das frustações, passará a reconhecer os processos de aprendizagem e desenvolvimento, para assim criar uma expectativa mais realista dos fatos, baseadas em seu potencial e não em parâmetros inatingíveis. Com todas essas mudanças de perspectiva, se sentirá mais confiante e arriscará mais na busca pelo sucesso, uma vez que não atribuirá o fracasso como uma falha pessoal, mas sim como parte de um processo para atingir melhores resultados. Poderá se tornar ainda mais produtivo, sentir prazer em fazer as coisas bem-feitas e não perfeitas, buscando alcançar a tão sonhada excelência!
É importante lembrar, que este padrão de funcionamento do perfeccionismo não se aplica somente para realização de tarefas, projetos ou atividades, mas também para visão de mundo, como: educação dos filhos, carreira profissional, relações interpessoais, etc.
“O perfeccionismo não existe. Entender isso constitui o triunfo da inteligência humana: a expectativa de alcança-lo é o tipo de loucura mais perigosa.” (Alfred de Musset)