Governo ainda não decolou
Na quarta-feira (10), o governo do presidente Jair Bolsonaro completou os seus 100 primeiros dias de mandato. Depois de o Palácio do Planalto ter estabelecido 35 objetivos para esse período, levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que 20% desse total não têm nem previsão de ser alcançado. Somente 34% já foram realizados.
Na verdade, ao longo de seus 100 primeiros dias, Bolsonaro colecionou recuos em declarações e medidas diante de repercussões negativas. É um governo marcado até agora por idas e vindas. Sobra improviso e falta planejamento ao presidente e seu corpo ministerial. A tudo isso ainda se soma a ausência de uma base parlamentar definida no Congresso Nacional.
A última declaração polêmica do presidente foi a promessa, em uma mensagem no Twitter, de fazer um “revogaço”. Bolsonaro pretende anular decretos que estariam inchando a máquina pública e criando burocracias desnecessárias. Mais uma vez, no entanto, ele não detalhou quais medidas serão atacadas pelo governo.
É o típico anúncio que visa causar impacto nas redes sociais e, na prática, não tem nenhum efeito imediato. Dizer apenas que vai “desregulamentar e diminuir o excesso de regras” é muito pouco para quem ocupa o cargo mais importante do País.
Bolsonaro, por exemplo, trabalha alianças para criar marcas na segurança pública, mas não obteve êxito. A sensação ainda é de insegurança nas ruas das principais cidades do País. Vide o exemplo do Rio, onde um homem foi morto após o carro onde estava com a família ser fuzilado pelo Exército.
Enquanto isso, o Ministério da Educação está à deriva. Depois do fracasso com o colombiano Ricardo Vélez à frente da pasta, agora o presidente tenta colocar a casa em ordem com o economista Abraham Weintraub. O cenário, no entanto, é de muita incerteza. Na posse do novo ministro da Educação, Bolsonaro indicou como um dos objetivos da pasta desestimular crianças e adolescentes a se interessarem por política nas escolas. Vale lembrar que o projeto Escola Sem Partido foi uma das bandeiras de Bolsonaro na campanha eleitoral.
O foco do presidente tem de estar na reforma na Previdência. Só assim, é que o Brasil vai conseguir equilibrar as contas públicas e assegurar a sustentabilidade do sistema. Se nada for feito, Estados e municípios vão à falência.
Investidores estrangeiros aguardam uma sinalização do governo em relação ao equilíbrio das contas públicas. O Brasil, porém, não pode esperar mais. São mais de 12 milhões de desempregados, o maior número de desocupados desde agosto do ano passado. Para aqueles que confiavam que a economia iria melhorar com a eleição de Bolsonaro, a situação continua na mesma.
A recuperação do mercado de trabalho ainda está muito lenta. Há um elevado número de desalentados e de subutilizados. Os 100 primeiros dias de governo podem até parecer pouco tempo, mas é muito para quem está desempregado e tem família para sustentar.