Bolsonaro joga para a torcida
A interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando da Petrobras não só derrubou o valor de mercado da estatal, como abalou a credibilidade do País com os investidores. Ao decidir colocar um general do Exército à frente da companhia, o presidente passou um recado muito ruim ao mercado. Pior ainda em meio à pandemia do novo coronavírus, em um momento em que economias de todo o mundo estão fragilizadas pela covid-19.
Por isso, a avaliação de especialistas é de que os próximos dias serão decisivos para definir qual rumo seguirá o governo Bolsonaro. Não custa lembrar que teremos eleição no próximo ano e o presidente já colocou a campanha na rua. Em busca de votos e com medidas populistas, é grande o risco de Bolsonaro abandonar a agenda fiscal para agradar ao seu eleitorado e, assim, prejudicar as finanças do País. Isso, se de fato ocorrer, seria muito ruim para todos.
É consenso que Bolsonaro trocou o presidente da Petrobras por uma decisão política para ficar bem com os caminhoneiros, que o pressionam por redução no preço do diesel. A ameaça de greve é real e provoca calafrios na população. Em 2018, por exemplo, a paralisação dos caminhoneiros durou 10 dias e derrubou a economia.
Entre as medidas em busca de apoio popular, o presidente determinou por decreto aos postos que detalhem ao consumidor os valores estimados dos tributos que compõem o preço final dos combustíveis automotivos. Trata-se de mais um capítulo de um cabo de guerra de Bolsonaro, que afirma que o peso maior dos tributos sobre os combustíveis não é de sua responsabilidade, mas dos governadores. Para o presidente, inclusive, o preço dos combustíveis no País é uma “caixa-preta”.
Se Bolsonaro quer tanto se aproximar do seu eleitorado, faltou ao presidente explicar ao povo que o preço dos combustíveis é formado por uma série de variantes. As refinarias, por exemplo, impõem um valor para as distribuidoras que, por sua vez, vendem o produto para os postos. Em todas as etapas desse processo incidem o preço de custo e o lucro. Além dos tributos federais, há ainda a incidência do ICMS, que é estadual.
O curioso é que o detalhamento dos valores dos tributos sobre bens e serviços já é obrigatório nas notas fiscais no País desde 2013, em uma lei sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012. Ou seja, está aí mais uma prova de que Bolsonaro gosta mesmo é de atuar para a plateia. Muitas vezes, faz estardalhaço por nada. O que ele deveria fazer é exigir que a lei seja cumprida.
Bravatas à parte, o mais importante neste momento é aprovar as reformas e medidas de ajuste fiscal no Congresso Nacional. É isso que o povo espera do governo Bolsonaro. Não à toa, todo mundo está de olho principalmente na aprovação da PEC Emergencial, que cria as bases para uma nova rodada de pagamento do auxílio emergencial. Sem esse dinheiro, milhares de pessoas não têm um prato de comida para colocar na mesa. É com esses brasileiros que o presidente precisa realmente estar preocupado, e não apenas com os caminhoneiros.