Em defesa da saúde e da vida
Transparência na divulgação dos dados sobre infecções e mortes em decorrência da covid-19 é fundamental para compreender a evolução da pandemia. Isso parece tão claro, menos para o governo do presidente Jair Bolsonaro, que na semana passada passou a restringir o acesso à informação à imprensa. Não à toa, Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL montaram um consórcio dos veículos de imprensa para informar os brasileiros sobre a evolução da covid-19 no País.
Isso foi necessário porque o Ministério da Saúde resolveu anunciar uma mudança no formato de divulgação dos dados relativos à pandemia. Pela nova metodologia, por exemplo, em vez de divulgar o número de mortes acumuladas na data de notificação, passa a ser divulgado com maior destaque somente o número de mortes que efetivamente ocorreram naquele dia.
Chegamos ao ponto de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), precisar determinar que o governo federal divulgue na íntegra os dados relativos ao contágio e às mortes pelo novo coronavírus (covid-19), nos moldes de como vinha sendo realizado pelo Ministério da Saúde até o dia 4 de junho. Uma decisão como essa é péssima para a imagem internacional do Brasil em um momento tão delicado como o que estamos vivendo.
A pandemia é uma ameaça real e gravíssima e já custou a vida de mais de 37 mil brasileiros. Não precisa ser nenhum gênio da lâmpada para saber que as consequências para a população podem ser desastrosas se o Brasil não seguir medidas internacionalmente reconhecidas de coleta, análise, armazenamento e divulgação dos dados epidemiológicos. Isso não apenas ajuda no planejamento do poder público para tomada de decisões, como é fundamental para que a população tenha efetivo conhecimento da situação vivenciada no país.
Se o plano de Bolsonaro era esconder dados sobre a pandemia, o tiro saiu pela culatra. Em meio a essas mudanças, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) disponibilizou no domingo (7), em seu site, um painel próprio com dados atualizados sobre o número de casos da covid-19 no país. Como um tapa de luva de pelica no governo, o texto do Conass diz que a iniciativa está pautada “pelo mais alto interesse público”, com vista à “defesa da saúde e da vida” dos brasileiros.
Na mesma linha, o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou na segunda-feira (8) que a comissão mista do Congresso criada para acompanhar a crise do novo coronavírus usará os dados fornecidos diretamente pelas secretarias estaduais de Saúde. Com a decisão, o Congresso abandona a contagem divulgada diariamente pelo Ministério da Saúde. Ou seja, de nada adianta querer tapar o sol com a peneira. A informação é pública, não tem dono, e vai ser amplamente divulgada, independentemente da vontade de Sicrano ou Beltrano.